O CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, pediu desculpas ao Brasil após as declarações feitas na última quarta-feira (20). Na ocasião, ele havia anunciado que a rede varejista deixaria de comercializar carnes oriundas do Mercosul, justificando a decisão como uma resposta à aprovação da lei antidesmatamento da União Europeia e às exigências do acordo de livre comércio com o bloco. Segundo Bompard, a medida buscava atender à "consternação e indignação" de agricultores europeus em relação ao tratado.
A declaração gerou forte reação do governo. O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) emitiu uma nota rechaçando as afirmações do executivo, ressaltando que o rigoroso sistema de Defesa Agropecuária brasileiro garante ao país o título de maior exportador mundial de carne bovina e de aves. O documento destacou que o Brasil mantém relações comerciais com cerca de 160 países, atendendo aos mais altos padrões de qualidade, inclusive os exigidos pela União Europeia, que há mais de 40 anos reconhece e atesta a excelência das carnes brasileiras.
A fala de Bompard provocou um boicote do setor produtivo nacional. Grandes frigoríficos anunciaram, desde sexta-feira (22), a suspensão da venda de carnes para o Carrefour no Brasil, agravando a repercussão negativa.
Diante da pressão, o CEO emitiu uma carta direcionada ao Mapa, pedindo desculpas por suas declarações, que, segundo ele, foram mal interpretadas. “Se nossa fala foi entendida como um questionamento à parceria com a agricultura brasileira ou uma crítica, pedimos desculpas”, afirmou no documento. Bompard também enfatizou que o Carrefour possui raízes profundas no Brasil, sendo o país onde a empresa realiza seus maiores investimentos, evidenciando, nas palavras dele, “a ambição e o compromisso com o Brasil”.
O episódio foi encerrado com a aceitação pública do pedido de desculpas pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. Em entrevista coletiva na terça-feira (26), ele afirmou que a retratação ocorreu em tempo hábil. “Episódio superado. Foi uma atitude intempestiva do CEO do Carrefour, mas que foi corrigida a tempo. Agora seguimos em frente”, declarou.
Leia a carta de Bompard na íntegra
Ao Excelentíssimo Ministro da Agricultura e Pecuária do Brasil,
Senhor Carlos Fávaro,A declaração de apoio do Carrefour França aos produtores agrícolas franceses causou discordâncias no Brasil. Como Diretor-Presidente do Grupo Carrefour e amigo de longa data do país, venho, respeitosamente, esclarecê-la.
O Carrefour é um grupo descentralizado e enraizado em cada país onde está presente, francês na França e brasileiro no Brasil.
Na França, o Carrefour é o primeiro parceiro da agricultura francesa: compramos quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades na França, e assim seguiremos fazendo. A decisão do Carrefour França não teve como objetivo mudar as regras de um mercado amplamente estruturado em suas cadeias de abastecimento locais, que segue as preferências regionais de nossos clientes. Com essa decisão, quisemos assegurar aos agricultores franceses, que atravessam uma grave crise, a perenidade do nosso apoio e das nossas compras locais.
Do outro lado do Atlântico, no Brasil, compramos dos produtores brasileiros quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades, e seguiremos fazendo assim. São os mesmos valores de criar raízes e parceria que inspiram há 50 anos nossa relação com o setor agropecuário brasileiro, cujo profissionalismo, cuidado à terra e produtores conhecemos.
O Grupo Carrefour Brasil é profundamente brasileiro, com mais de 130.000 colaboradores, se desenvolveu e continua se desenvolvendo sob minha presidência em parceria com produtores e fornecedores do Brasil, valorizando o trabalho do setor produtivo e sempre em benefício de nossos clientes. Nos últimos anos, o Grupo Carrefour Brasil acelerou seu desenvolvimento, dobrando tanto o volume de seus investimentos no país quanto suas compras da agricultura brasileira. Mais amplamente, o Brasil é o país em que o Carrefour mais investiu sob minha presidência, o que confirma nossa ambição e nosso comprometimento com o país. Assim seguiremos prestigiando a produção e os atores locais e fomentando a economia do Brasil.
Sabemos que a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, respeito as normas e sabor. Se a comunicação do Carrefour França gerou confusão e pode ter sido interpretada como questionamento de nossa parceria com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela, pedimos desculpas.
O Carrefour está empenhado em trabalhar, na França e no Brasil, em prol de uma agricultura próspera, seguindo nosso propósito pela transição alimentar para todos. Asseguro, Senhor Ministro, nosso compromisso de longo prazo ao lado da agricultura e dos produtores brasileiros.
Aproveito a oportunidade para renovar os protestos de estima e consideração.
Atenciosamente,
Alexandre Bompard
Diretor-Presidente do Grupo Carrefour
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