A presidente Dilma Rousseff justificou hoje o corte de 0,50 ponto porcentual da taxa Selic, ontem pelo Copom - medida que surpreendeu o mercado e gerou muitas críticas - com o argumento de que o Brasil tem de crescer para enfrentar a atual crise. Em entrevista às rádios Itatiaia e Congonhas, de Minas Gerais, a presidente rebateu as críticas de pressão sobre o Banco Central e disse que falava em nome do governo federal. "O Copom fala pelo Copom, eu falo em nome do governo federal".
A presidente destacou ainda que o governo não trabalha com a hipótese de que esta crise dure pouco tempo: "A tendência é de ser uma crise de longa duração, de dois para mais anos. Assim sendo, temos de nos fortalecer economicamente, melhorar a gestão publica, aumentar a nossa relação de melhoria do gasto e fazer o seguinte: tirar disso todas as oportunidades para que o Brasil transforme o efeito dessa crise a seu favor."
A decisão inesperada de reduzir a Selic em 0,5 ponto porcentual foi vista por analistas e pelo mercado como resultado de pressão política por parte do governo. A pressão começou nos últimos dias, quando a equipe econômica anunciou um esforço de última hora para "abrir caminho" para a redução do juro. Na segunda-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, divulgou um aumento da economia feita para pagar os juros da dívida pública - o superávit primário - em R$ 10 bilhões neste ano, o que ajuda a reduzir a pressão de alta nos preços.
Na terça-feira, foi a vez da presidente pedir queda dos juros. "A partir deste momento, nós começamos a ver a possibilidade de redução dos juros no Brasil, que hoje pratica as mais altas taxas."
Representantes do governo, agora, tentam desfazer a imagem de que o BC agiu pressionado. A ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, afirmou nessa quinta-feira que a decisão foi tomada em virtude da crise internacional e das medidas adotadas pelo governo brasileiro. Ela negou interferência do governo na decisão e reiterou a autonomia do BC.
"O Banco Central tem total autonomia e está acompanhando a crise internacional. Os elementos da crise internacional deram condições, junto com as medidas do governo, para que se pudesse ter essa redução. O BC tomou uma medida adequada às condições da economia internacional", disse a ministra, após reunião na manhã de hoje na Câmara com a bancada do PSD.
Já o líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), negou qualquer interferência da presidente Dilma e do governo sobre a decisão do BC. "Quem quer viver de especulação ficou incomodado", afirmou, completando que as críticas sobre a decisão tomada ontem pelo BC partem da "banca", ou seja, de quem ganha com os juros altos. Ele considerou "ridículo" falar de falta de independência do Banco Central nessa decisão e disse que, assim como ocorria no governo Lula, também na gestão Dilma Rousseff o BC não sofre interferências.
Discurso não convence
Mas o discurso não convenceu mercado e analistas. O ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola afirmou nessa quinta-feira, que a decisão do Copom foi "equivocada" e mostrou certa imprudência do colegiado do BC. "A grande dúvida hoje é saber se o Banco Central tem autonomia na política monetária. A credibilidade do BC está em xeque", apontou.
Para Loyola, o sistema de metas de inflação puro, que persegue um objetivo central, aparentemente está abalado. "Ninguém sabe mais qual é a meta de inflação, se é 4,5% ou mais", afirmou. "Ela existe apenas no papel." As declarações de Loyola revelam preocupação com o cumprimento da meta. A calibragem dos juros tem por objetivo o controle de preços. Se as decisões assumirem tendência política, o temor é de que a inflação saia de controle
"O BC não convenceu. Não há evidências de que o mundo vai entrar em recessão tão rapidamente. Além disso, a inflação está acima da meta e as expectativas para o próximo ano apontam que ela também está distante dos 4,5%", comentou Loyola.
"A decisão do BC foi precipitada. Muita gente poderá, a partir de agora, ficar com a avaliação segundo a qual fatores não objetivos e técnicos, ou forças ocultas, influenciaram a queda dos juros", afirmou.
Duas páginas
As críticas já eram esperadas pelo BC e, para tentar amenizá-las, a instituição divulgou um comunicado de duas páginas após a decisão, considerado por alguns analistas como uma "pré-ata" do encontro de ontem. Normalmente, esse comunicado tem um ou dois parágrafos.
Nesse documento, o BC explicou a decisão pelo ambiente externo dos últimos 42 dias, período em que a nota de risco dos Estados Unidos foi rebaixada, o que deflagrou uma série de revisões para pior das projeções sobre o que deve acontecer com a economia mundial. Para os diretores do BC, o corte do juro vai "tempestivamente mitigar" os efeitos dessa crise internacional. Nesse cenário, "um ajuste moderado no nível da taxa básica é consistente com o cenário de convergência da inflação para a meta em 2012".
Para respaldar o corte - o primeiro desde julho de 2009, quando o Brasil ainda vivia os efeitos da outra crise e a Selic atingiu o menor patamar da história (8,75%) - o Comitê de Política Monetária do BC disse que a economia global deverá ficar em ritmo lento por "um período de tempo maior do que o antecipado". Para o Brasil, a piora do quadro será sentida de "várias" maneiras: "Redução da corrente de comércio, moderação do fluxo de investimentos, condições de crédito mais restritivas e piora no sentimento de consumidores e empresários", cita o texto.
Com a guinada na estratégia para os juros, o BC ignora as preocupações que vigoravam até há pouco tempo com a inflação - tema que motivou o aumento de 1,75 ponto porcentual da Selic entre janeiro e julho. Nos últimos 12 meses, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou alta de 6,87%, acima do teto da meta que é de 6,50%. Para os próximos 12 meses, a expectativa para o IPCA é de uma variação de 5,47%. Curiosamente, o número esperado é exatamente o mesmo patamar previsto pelos analistas em 14 de janeiro, na última pesquisa Focus antes de o BC iniciar o ciclo de alta que terminou bruscamente ontem.
A presidente destacou ainda que o governo não trabalha com a hipótese de que esta crise dure pouco tempo: "A tendência é de ser uma crise de longa duração, de dois para mais anos. Assim sendo, temos de nos fortalecer economicamente, melhorar a gestão publica, aumentar a nossa relação de melhoria do gasto e fazer o seguinte: tirar disso todas as oportunidades para que o Brasil transforme o efeito dessa crise a seu favor."
A decisão inesperada de reduzir a Selic em 0,5 ponto porcentual foi vista por analistas e pelo mercado como resultado de pressão política por parte do governo. A pressão começou nos últimos dias, quando a equipe econômica anunciou um esforço de última hora para "abrir caminho" para a redução do juro. Na segunda-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, divulgou um aumento da economia feita para pagar os juros da dívida pública - o superávit primário - em R$ 10 bilhões neste ano, o que ajuda a reduzir a pressão de alta nos preços.
Na terça-feira, foi a vez da presidente pedir queda dos juros. "A partir deste momento, nós começamos a ver a possibilidade de redução dos juros no Brasil, que hoje pratica as mais altas taxas."
Representantes do governo, agora, tentam desfazer a imagem de que o BC agiu pressionado. A ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, afirmou nessa quinta-feira que a decisão foi tomada em virtude da crise internacional e das medidas adotadas pelo governo brasileiro. Ela negou interferência do governo na decisão e reiterou a autonomia do BC.
"O Banco Central tem total autonomia e está acompanhando a crise internacional. Os elementos da crise internacional deram condições, junto com as medidas do governo, para que se pudesse ter essa redução. O BC tomou uma medida adequada às condições da economia internacional", disse a ministra, após reunião na manhã de hoje na Câmara com a bancada do PSD.
Já o líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), negou qualquer interferência da presidente Dilma e do governo sobre a decisão do BC. "Quem quer viver de especulação ficou incomodado", afirmou, completando que as críticas sobre a decisão tomada ontem pelo BC partem da "banca", ou seja, de quem ganha com os juros altos. Ele considerou "ridículo" falar de falta de independência do Banco Central nessa decisão e disse que, assim como ocorria no governo Lula, também na gestão Dilma Rousseff o BC não sofre interferências.
Discurso não convence
Mas o discurso não convenceu mercado e analistas. O ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola afirmou nessa quinta-feira, que a decisão do Copom foi "equivocada" e mostrou certa imprudência do colegiado do BC. "A grande dúvida hoje é saber se o Banco Central tem autonomia na política monetária. A credibilidade do BC está em xeque", apontou.
Para Loyola, o sistema de metas de inflação puro, que persegue um objetivo central, aparentemente está abalado. "Ninguém sabe mais qual é a meta de inflação, se é 4,5% ou mais", afirmou. "Ela existe apenas no papel." As declarações de Loyola revelam preocupação com o cumprimento da meta. A calibragem dos juros tem por objetivo o controle de preços. Se as decisões assumirem tendência política, o temor é de que a inflação saia de controle
"O BC não convenceu. Não há evidências de que o mundo vai entrar em recessão tão rapidamente. Além disso, a inflação está acima da meta e as expectativas para o próximo ano apontam que ela também está distante dos 4,5%", comentou Loyola.
"A decisão do BC foi precipitada. Muita gente poderá, a partir de agora, ficar com a avaliação segundo a qual fatores não objetivos e técnicos, ou forças ocultas, influenciaram a queda dos juros", afirmou.
Duas páginas
As críticas já eram esperadas pelo BC e, para tentar amenizá-las, a instituição divulgou um comunicado de duas páginas após a decisão, considerado por alguns analistas como uma "pré-ata" do encontro de ontem. Normalmente, esse comunicado tem um ou dois parágrafos.
Nesse documento, o BC explicou a decisão pelo ambiente externo dos últimos 42 dias, período em que a nota de risco dos Estados Unidos foi rebaixada, o que deflagrou uma série de revisões para pior das projeções sobre o que deve acontecer com a economia mundial. Para os diretores do BC, o corte do juro vai "tempestivamente mitigar" os efeitos dessa crise internacional. Nesse cenário, "um ajuste moderado no nível da taxa básica é consistente com o cenário de convergência da inflação para a meta em 2012".
Para respaldar o corte - o primeiro desde julho de 2009, quando o Brasil ainda vivia os efeitos da outra crise e a Selic atingiu o menor patamar da história (8,75%) - o Comitê de Política Monetária do BC disse que a economia global deverá ficar em ritmo lento por "um período de tempo maior do que o antecipado". Para o Brasil, a piora do quadro será sentida de "várias" maneiras: "Redução da corrente de comércio, moderação do fluxo de investimentos, condições de crédito mais restritivas e piora no sentimento de consumidores e empresários", cita o texto.
Com a guinada na estratégia para os juros, o BC ignora as preocupações que vigoravam até há pouco tempo com a inflação - tema que motivou o aumento de 1,75 ponto porcentual da Selic entre janeiro e julho. Nos últimos 12 meses, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou alta de 6,87%, acima do teto da meta que é de 6,50%. Para os próximos 12 meses, a expectativa para o IPCA é de uma variação de 5,47%. Curiosamente, o número esperado é exatamente o mesmo patamar previsto pelos analistas em 14 de janeiro, na última pesquisa Focus antes de o BC iniciar o ciclo de alta que terminou bruscamente ontem.
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