Grandes bancos americanos vão deixar de ganhar milhões de dólares com a desistência de Elon Musk de comprar o Twitter por US$ 44 bilhões, oferta realizada pelo bilionário em abril deste ano. Desde então, a negociação foi cercada por uma série de polêmicas, até a última sexta-feira, quando o empresário anunciou a decisão de interromper a negociação. A rescisão do contrato, um dos mais rentáveis dos últimos anos, ocorre em meio a um momento de baixa no mercado de capitais dos Estados Unidos. E esta não é a primeira vez que o magnata deixa grandes instituições financeiras de mãos abanando, mas, por ser o homem mais rico do mundo, é pouco provável que sofra retaliações.
Dono da Tesla, fabricante de veículos elétricos, e da SpaceX, que oferece serviços espaciais, Musk tem um patrimônio estimado em US$ 237,9 bilhões, ou cerca de R$ 1,25 trilhão, de acordo com ranking da revista Forbes. É mais do que os ativos totais do Santander Brasil, maior banco estrangeiro no País.
A lista de bancos envolvidos nas tratativas com o Twitter tinha grandes nomes: o Morgan Stanley assessorava Musk, e o Goldman Sachs, o Twitter. Participavam ainda os americanos JPMorgan, Bank of America e Allen & Co, além do britânico Barclays. A comissão que receberiam pelo negócio, o chamado fee no jargão do mercado financeiro, era estimada em US$ 191,5 milhões, conforme dados da consultoria britânica Refinitiv. Considerando o câmbio atual, mais de R$ 1 bilhão.
A compra do Twitter por Musk resultaria na maior comissão a ser recebida por bancos de investimento neste ano, que tem sido marcado por uma baixa dos negócios em Wall Street, com a subida de juros nos EUA e a guerra na Ucrânia. A cifra também seria a mais elevada desde 2020, segundo a Refinitiv. No entanto, os banqueiros só colocariam a mão na bolada após o fim da transação.
A conclusão das negociações com o Twitter teve efeito negativo nas ações da companhia. Os papéis fecharam em queda de 11,4%, cotados a US$ 32,65 na Bolsa de tecnologia Nasdaq.
Bastidores
Cheio de idas e vindas, o negócio foi desfeito porque certos dados fornecidos pelo Twitter não agradaram à equipe de Musk. O empresário notificou, então, a companhia de que havia desistido da operação em documento enviado à Securities and Exchange Commission (SEC, que regula o mercado de capitais nos Estados Unidos).
Desde que havia iniciado as conversas com sua rede social favorita, o empresário vinha pregando mais liberdade de expressão na plataforma e também um tom mais “leve”, semelhante ao visto no app chinês TikTok.
O drama, porém, ainda não acabou. Os donos da rede social contrataram o escritório norte-americano Wachtell, Lipton, Rosen & Katz, especializado em grandes fusões, para processar o bilionário por abandonar o acordo.
De qualquer forma, a rescisão do contrato acaba com as esperanças de curto prazo dos bancos. O Goldman Sachs, por exemplo, receberia US$ 80 milhões após o fechamento da venda do Twitter. Sem o acordo, essa cifra cai para US$ 15 milhões, também conforme a Refinitiv. Já o JPMorgan pode ficar com apenas US$ 5 milhões, ante US$ 53 milhões que esperava receber.
Esta não é a primeira vez que Musk desiste de grandes operações, deixando os bancos a ver navios. Há quatro anos, o bilionário recorreu ao seu perfil no Twitter para anunciar que tinha “financiamento assegurado” para tornar a Tesla uma empresa de capital fechado. O movimento não saiu e Musk teve ainda de arcar com uma multa de US$ 40 milhões imposta pela SEC para indenizar investidores que se sentiram prejudicados.
Aproximação
O negócio com o Twitter, ainda que desfeito, também contribuiu para aproximar os banqueiros de Wall Street de Musk. Durante as tratativas, ele participou da conferência anual do norte-americano Allen & Co, um dos assessores do negócio, dando grande visibilidade ao evento – apesar de ele não ter respondido a questões sobre o Twitter na ocasião.
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