O cineasta Rodrigo Giannetto , responsável pelo documentário da Netflix "O Grito" – que aborda o sistema carcerário brasileiro –, viajou para a Europa com passagens pagas por membros da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). De acordo com investigações da Polícia Civil de São Paulo, as passagens foram adquiridas por Kauê do Amaral Coelho, acusado de ser um “olheiro” da facção e de ter participado do assassinato do empresário e delator do PCC, Vinícius Gritzbach , ocorrido em 8 de novembro de 2024. O valor das passagens foi de R$ 18.350.
As informações foram inicialmente divulgadas pelos jornalistas André Shalders, Vinícius Valfré e Gustavo Côrtes, do O Estado de S.Paulo . Posteriormente, o site Poder360 teve acesso ao inquérito e confirmou os dados. A viagem de Giannetto ocorreu entre os dias 6 e 24 de outubro de 2024, com partida de São Paulo rumo a Palermo, na Itália, e Londres, no Reino Unido.
O que disseram os citados
Em entrevista ao Estado de S.Paulo , Giannetto negou qualquer envolvimento com o PCC e afirmou não conhecer Kauê do Amaral Coelho. O cineasta explicou que a viagem teve como objetivo sua participação no Festival Internazionale Nebrodi Cinema.
Giannetto explicou ainda que foi contatado pela agência K2 para produzir o documentário. O cineasta também mencionou que a possibilidade de participar do festival de cinema surgiu durante um evento de exibição do filme, no qual várias ONGs do sistema prisional estavam presentes. Uma dessas ONGs sugeriu que ele procurasse a agência de viagens em Jundiaí, onde as passagens foram compradas. Ao entrar em contato com a empresa, Giannetto foi informado de que as passagens já haviam sido pagas.
Por sua vez, a Netflix esclareceu que O Grito não é uma produção original da plataforma, que apenas licenciou o conteúdo dos produtores. A empresa afirmou que não teve participação na realização do documentário nem no financiamento ou nas decisões sobre sua participação em festivais.
O documentário dirigido por Giannetto é uma crítica ao sistema penitenciário brasileiro, com foco nas condições dos detentos nas prisões. A produção inclui entrevistas com familiares de membros do PCC e do Comando Vermelho (CV), como Marcinho VP, líder do CV, e Marcola, líder do PCC.
Operação Fake Scream
As informações sobre a viagem de Giannetto fazem parte do inquérito da operação Fake Scream, conduzida pela Polícia Civil de São Paulo e pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público do Estado de São Paulo . O alvo da operação foi a ONG Pacto Social & Carcerário de S.P., supostamente ligada ao PCC. O nome da operação faz referência ao título do documentário, “Falso Grito”.