A Advocacia-Geral da União (AGU) afirmou, nesta terça-feira (14), que as mudanças promovidas pela Meta na política de moderação de conteúdo nas redes sociais "causam grave preocupação". A instituição brasileira publicou seu parecer após receber, na segunda-feira (13), a resposta solicitada à multinacional de tecnologia.
"Alguns aspectos constantes no documento da Meta geram grave preocupação na AGU e em órgãos do Governo Federal, especialmente a confirmação da alteração e adoção, no Brasil, da Política de Conduta de Ódio, que, à evidência, pode representar um terreno fértil para a violação da legislação e de preceitos constitucionais que protegem os direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros", consta no parecer da AGU.
Além disso, a AGU ressaltou que a resposta da Meta é contraditória em relação a algumas afirmações feitas pela empresa em manifestações recentes. "As informações prestadas pela Meta também contradizem afirmações feitas pela empresa em manifestações ocorridas no curso da discussão sobre o Marco Civil da Internet, no âmbito de processos em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF). Nessas manifestações, representantes da empresa asseguraram que as políticas de governança de conteúdo vigentes eram suficientes para a proteção dos direitos fundamentais dos usuários", consta em outro trecho.
Por fim, a AGU confirmou que realizará uma audiência pública na próxima semana com os ministérios da Justiça e Segurança Pública (MJSP), Direitos Humanos e Cidadania (MDHC) e a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom/PR), para tratar do assunto.
Confira abaixo a posição da AGU frente à resposta da Meta
"A Advocacia-Geral da União (AGU) recebeu, no final da noite da última segunda-feira (13/01), a manifestação da Meta Plataforms, Inc em resposta à notificação extrajudicial enviada à empresa na última sexta-feira (10/01).
No documento, a companhia informa que, por ora, encerrará o Programa de Verificação de Fatos independente apenas nos Estados Unidos. Tal programa será, segundo a empresa, substituído pelas Notas da Comunidade. No Brasil, no entanto, a checagem de fatos realizada pela Meta permanecerá ativa neste momento.
A manifestação confirma ainda que as mudanças anunciadas pela empresa relativas à Política de Conduta de Ódio já foram implementadas no Brasil com o “objetivo garantir maior espaço para a liberdade de expressão (...) e permitir um debate mais amplo e conversa sobre temas que são parte de discussões em voga na sociedade”.
Alguns aspectos constantes no documento da Meta causam grave preocupação na AGU e em órgãos do governo federal. Especialmente a confirmação da alteração e adoção, no Brasil, da Política de Conduta de Ódio que, à toda evidência, pode representar terreno fértil para violação da legislação e de preceitos constitucionais que protegem direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros.
As informações prestadas pela Meta também contrariam afirmações realizadas pela empresa em recentes manifestações proferidas no curso da discussão sobre o Marco Civil da Internet, no âmbito de processos em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF). Em tais manifestações, representantes da empresa asseguraram que as então políticas de governança de conteúdo eram suficientes para a proteção dos direitos fundamentais dos usuários.
No entendimento da AGU e de ministérios que atuam no tema, os atuais termos de uso das plataformas, assim como as mudanças informadas agora pela Meta, não estão adequados à legislação brasileira e não são suficientes para proteção dos direitos fundamentais da cidadania.
Diante de tal cenário, e considerando a confirmação pela Meta da mudança de sua Política de Conduta de Ódio no Brasil, iniciativa que tem potencial efetivo de permitir graves violações de direitos humanos no país, a AGU, em conjunto com os ministérios da Justiça e Segurança Pública (MJSP), Direitos Humanos e Cidadania (MDHC) e Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom/PR), realizarão ainda esta semana audiência pública para discutir os efeitos da nova política implementada pela Meta, o dever de cuidado das plataformas digitais, os riscos da substituição do Programa de Verificação de Fatos no exterior e as medidas a serem ser adotadas com o objetivo de assegurar o cumprimento da legislação nacional e a proteção de direitos.
A audiência deverá ocorrer na próxima semana, em data e horário a ser definido. Serão convidados a participar órgãos governamentais e entidades da sociedade civil que lidam com o tema das redes sociais. Também serão convidados especialistas, acadêmicos e representantes das agências de checagem de fatos".