A Polícia Federal (PF) indiciou nesta quinta-feira (21) o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais 36 pessoas no inquérito que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado no Brasil. O relatório, com mais de 800 páginas, foi enviado ao ministro Alexandre de Moraes , do Supremo Tribunal Federal (STF), que o submeterá à Procuradoria-Geral da República (PGR). A investigação aponta que Bolsonaro tinha conhecimento do suposto planejamento, que incluía ações articuladas por militares, ex-ministros e aliados. Entre os indiciados estão figuras de destaque como os generais Augusto Heleno , Walter Braga Netto e Paulo Sérgio Nogueira .

Segundo a PF, as provas foram obtidas por meio de quebras de sigilos telemático, telefônico, bancário e fiscal, além de colaborações premiadas, buscas e apreensões. A investigação identificou uma divisão de tarefas entre os envolvidos, o que permitiu a individualização das condutas. Os crimes apontados no relatório incluem abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. O documento descreve ainda seis eixos de atuação do grupo, como núcleos de desinformação, jurídico e operacional, entre outros.

Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro em 2022, foi citado como peça-chave no planejamento do suposto golpe. O relatório da Operação Contragolpe, desencadeada na última terça-feira (19), aponta que o general teria articulado ações que incluíam até o assassinato do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro Alexandre de Moraes. Documentos indicam que o plano envolvia a criação de um Gabinete de Crise composto majoritariamente por militares.

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto , e o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) também estão entre os indiciados. Ramagem, ex-chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), é investigado no caso da "Abin paralela", que teria espionado autoridades como políticos, ministros do STF e jornalistas. A PF afirma que o grupo discutiu até mesmo os custos operacionais do suposto golpe, estimados em cerca de R$ 100 mil, incluindo transporte, hospedagem e materiais.

O relatório foi concluído em paralelo ao depoimento do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, sobre supostas omissões em seu acordo de delação premiada. Ele é acusado de não revelar informações completas sobre o plano de assassinato das autoridades. Caso o ministro Alexandre de Moraes entenda que houve omissões, o acordo de delação pode ser anulado, e Cid retornará à prisão.

Com a entrega do relatório, a Polícia Federal considera encerrada a fase de investigações sobre as tentativas de golpe e a abolição violenta do Estado Democrático de Direito. A Procuradoria-Geral da República terá 15 dias para decidir se concorda com os indiciamentos, arquiva o caso ou solicita novas diligências, dando sequência às ações judiciais cabíveis.