As investigações sobre o esquema de venda de sentenças no Superior Tribunal de Justiça (STJ), a segunda maior corte do Brasil, revelam duas frentes distintas, ambas com grande potencial de impacto. Uma dessas frentes, menos conhecida do público, é particularmente sensível e, se bem investigada pela Polícia Federal e pela Procuradoria Geral da República, pode atingir poderosos escritórios de Brasília, muitos ligados a parentes de ministros, que ganham fortunas para manipular processos em andamento. As informações são da ISTOÉ .

A parte já revelada da trama envolve mensagens e arquivos encontrados no celular de um advogado falecido em dezembro passado, em Cuiabá. Essas evidências mostram que ele realizava pagamentos significativos a um empresário-lobista de Brasília, que tinha acesso a gabinetes do STJ e conseguia influenciar decisões, dependendo do dinheiro e dos interesses dos clientes. Funcionários dos gabinetes, que recebiam uma comissão, ajudavam a facilitar as ações da quadrilha.

Foto: Reprodução/ Redes Sociais
Rodrigo Alencastro e Caroline Azeredo

Embora essa parte da investigação tenha sido bastante lucrativa para os envolvidos, seu funcionamento era mais discreto. As mensagens no celular do advogado falecido revelam intermediários pouco sofisticados. Em uma delas, o lobista Andreson Gonçalves, responsável por intermediar relações com os gabinetes, afirmava: “Quem vai fazer o voto vai ser a juíza extrutora amiga minha”, quando na verdade se referia à “juíza instrutora”, uma magistrada que assessora ministros em suas decisões.

A outra linha da investigação, que curiosamente se conecta ao esquema do lobista, é mais sofisticada. Ela se origina de uma história repleta de violência, traição e conexões com grandes escritórios de Brasília.

Briga em Lisboa

Em junho, a advogada Caroline Azeredo viajou a Lisboa para um evento anual que reúne figuras proeminentes do Judiciário, do empresariado e da advocacia brasileira. Organizado pelo instituto do ministro Gilmar Mendes, do STF, o evento é conhecido por suas festas onde interesses se cruzam. Caroline estava acompanhada de seu novo namorado, Victor Pellegrino Júnior, um jovem advogado e lutador de artes marciais. Ela havia recentemente se separado de Rodrigo Otávio Alencastro, procurador do governo do Distrito Federal, que também estava presente.

Após um encontro inicial tenso entre os três, a situação escalou em outra festa, resultando em um confronto físico, onde Victor agrediu Alencastro, que saiu ferido e sem alguns de seus pertences.

Denúncia no Brasil

De volta ao Brasil, Alencastro registrou a agressão na Polícia Civil do Distrito Federal e fez uma declaração que revelou detalhes explosivos, alegando que Caroline vendia influência em gabinetes do STJ e citou casos e gabinetes específicos.

Embora isso pudesse parecer uma intriga pessoal, as conexões profissionais de ambos os protagonistas tornam a situação mais grave. Alencastro, além de ser procurador, é um dos principais advogados de um dos maiores escritórios de Brasília, o Alckmin Advogados, fundado pelo ex-ministro do TSE José Eduardo Alckmin, primo do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin.