Faleceu na manhã de hoje (23), na Suíça, o escritor e compositor Antônio Cícero Correia Lima , membro da Academia Brasileira de Letras (ABL). Ele sofria do mal de Alzheimer e se submeteu a um procedimento de morte assistida. Ele deixou uma carta explicando a decisão.
Nascido no Rio de Janeiro, em 1945, era filho dos piauienses Amélia Correia Lima e Ewaldo Correia Lima. Seu pai foi um dos intelectuais fundadores do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), tendo sido também diretor do BNDE durante o governo JK. Em 1960, Ewaldo assume um cargo executivo no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que então acabava de ser criado, e toda a família se transfere para Washington. Lá, Antônio Cícero fez os seus estudos secundários.
Poeta desde jovem, seus poemas só apareceram para o grande público quando sua irmã, a cantora e compositora Marina Lima, passou a musicar um deles. A partir desse momento, passou a escrever, além de poemas para serem lidos, letras para as melodias que sua irmã – e, depois, outros parceiros – lhe enviavam. Produziu, então, várias letras de canções como, por exemplo, as de Fullgás, Pra começar e À francesa – as duas primeiras em parceria com sua irmã, e a última com Cláudio Zoli. A partir de então, Cicero tornar-se-ia um dos mais próximos parceiros de Marina. Entre outras parcerias, destacam-se aquelas com Waly Salomão, João Bosco, Orlando Morais, Adriana Calcanhotto e Lulu Santos (co-autor, junto com Antonio Cicero e Sérgio Souza, do hit O Último Romântico, de 1984).
Em 10 de agosto de 2017 foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras.
O poeta deixou uma carta de despedida aos familiares e amigos antes de ser submetido a um procedimento de morte assistida, confira:
"Queridos amigos,
Encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia. O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer.
Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem.
Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi.
Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia.
Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo.
Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha terrível situação.
A convivência com vocês, meus amigos, era uma das coisas – senão a coisa – mais importante da minha vida. Hoje, do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los.
Pois bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo.
Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade.
Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços!"