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*Por Arthur Teixeira Júnior

Imagem: ReproduçãoArthur Teixeira Júnior(Imagem:Reprodução)Arthur Teixeira Júnior


"Vejo aqui na Folha de São Paulo uma pesquisa feita por uma tal de “Quiz” para determinar a classe social a que o leitor pertence. Respondi as questões e, orgulhosamente, informo: pertenço a classe alta. Ter duas TVs velhas (uma queimada), ter curso superior (para não aplicar meus conhecimentos nos últimos 10 anos), ter um carro 2002 (com o IPVA atrasado), casa com um banheiro (com descarga de cordinha), coloca-me em pé de igualdade com meu chefe, servidor público desde os tempos do Império, com todos os pendurricalhos incorporados em seus vencimentos (adicionais, gratificações, quinquênios, triênios, ajudas de custo, funções comissionadas, quintos, etc), que tem problemas de estacionamento para guardar suas três Hilux, passa as férias na Europa, tem casa com piscina, empregada doméstica em tempo integral, babá para os filhos que estudam no melhor colégio do Piauí (R$ 1.200,00 por mês, cada), toma Whisky 18 anos e tem duas amantes.

A pesquisa, feita por média, sempre pode trazer resultados enganadores. Alguns colegas desta repartição, conterrâneos ufanistas, enchem a boca para propagar que o Piauí tem o melhor ensino do país, pois aqui está o melhor colégio avaliado pelo Ministério da Educação. Isto é verdade, e temos que nos orgulhar disto. Mas também é verdade que lá só estudam os filhos dos teresinenses abastados, como os filhos de meu chefinho, e que a maioria das crianças de nosso estado tem mesmo é que penar na escola pública. A filha da minha vizinha terminou a oitava série, e posso afirmar que ela não sabe ler e, muito menos, tem a menor intimidade com as operações aritméticas. É uma analfabeta, e assim o será por toda sua vida. Mas com diploma do Ensino Fundamental.

É como eu te convidar para almoçar. Sentamos à mesa e pedimos um frango inteiro. Daí eu como tudinho e você fica olhando. Vamos embora, eu de pança cheia e você com fome. Entretanto, na média, nós comemos meio frango cada um e estamos, estatisticamente, bem alimentados.

Ser classe média (ou alta), ser velho (idoso, que é politicamente correto), é na verdade um estado de espírito. Não adianta você ganhar bem e andar de carro velho (devagar, pela faixa da esquerda), morar com a sogra, beber Schin em copo americano saboreando sarapatel, passar uma semana com a família (que ficou cinco anos sem férias) na casa abandonada da Associação de Servidores lá em Luis Correia ou ter como programa de fim de semana passear com os filhos no zoo botânico. Ou ser jovem e não namorar.

Resolvi fazer uma pesquisa pessoal para avaliar a real classe social dos leitores, mas espiritualmente. Responda com franqueza:

- Quando você abre um pote de Yogurt, lambe a tampa?

- Em sua casa, existe algum rádio (ou TV) com Bom Bril na antena?

- Você (ou sua esposa) junta potes vazios de margarina para guardar restos de alimentos, bugigangas ou pregos enferrujados?

- Guarda os restinhos de sabonete para, ao final do mês, juntá-los e fazer um sabonete novo?

- Desliga o carro em farois vermelhos ou coloca em “ponto morto” em descidas prolongadas?

- Quando vai ao Shopping Teresina, estaciona o carro na avenida Raul Lopes para não pagar o estacionamento?

- Manda a costureira da família virar as golas gastas de sua camisa para usá-la mais uns dois anos?

- Só vai em restaurantes que não cobram os 10% de taxa do garçom?

- No almoço de domingo, come frango assado, comprado na esquina, acompanhado de Tubaréu?

- Embora tenha dinheiro disponível, só paga suas contas no último momento do dia certo do vencimento?

Se você respondeu “sim” a pelo menos duas questões acima, não importa seu salário, onde e como você mora, ou que carro você tem. És um pobre."

*Arthur Teixeira Júnior é articulista e escreve para o GP1

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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