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Com Ricardo Nunes, MDB ganha protagonismo em São Paulo

Partido, que tem baixa representação na cidade, passa a comandar o quinto maior orçamento do País.

Com a morte de Bruno Covas (PSDB-SP), vítima de um câncer aos 41 anos, o MDB assume pela primeira vez, no período democrático, o comando da prefeitura de São Paulo. Ricardo Nunes (MDB), que concorreu como vice do tucano nas eleições de 2020, agora exerce o posto. Isso significa que o partido vai comandar o quinto maior orçamento do Brasil, que supera 24 estados.

O MDB nunca teve muita expressão na capital paulista. Durante a ditadura militar, o então PMDB teve dois prefeitos biônicos, que eram nomeados pelos governadores após ratificação da Assembleia Legislativa: Francisco Altino Lima, que ficou no cargo por 57 dias em 1983, e Mário Covas, avô de Bruno, prefeito da capital paulista entre 11 de maio de 1983 e 31 de dezembro de 1985.


O cargo de prefeito de São Paulo é cobiçado e dá visibilidade nacional. Os três antecessores de Covas na função, João Doria (PSDB), Fernando Haddad (PT) e Gilberto Kassab (PSD,) são hoje nomes relevantes nacionalmente e têm influência na eleição presidencial de 2022.

Ao Estadão, o prefeito Ricardo Nunes reforçou que vai dar continuidade à gestão de Bruno Covas. O emedebista se valeu do bordão "Força, Foco e Fé", que virou marca registrada do tucano. A expectativa é que, pelo menos em um primeiro momento, a equipe de secretários seja mantida.

"A eleição PSDB/MDB liderada pelo Bruno apresentou as nossas propostas para cidade e vou, somente, dar continuidade. Trabalhar muito, junto à nossa equipe, para honrar a memória do Bruno, nosso grande líder. Força, Foco e Fé", afirmou Nunes.

Em 2020, o MDB conquistou o maior número de prefeituras no País (784). A legenda também detém o comando da maior quantidade de capitais (5). Ano passado, o partido venceu com Sebastião Melo, em Porto Alegre (RS), Maguito Vilela, em Goiânia (GO), Dr. Pessoa, em Teresina (PI), Arthur Henrique, em Boa Vista (RR) e Emanuel Pinheiro, em Cuiabá (MT).

Maguito, porém, morreu de covid-19 e nunca chegou a assumir o cargo, que é exercido por Rogério Cruz (Republicanos). Com a ida de Ricardo Nunes para cadeira no Edifício Matarazzo, o MDB passa a administrar 35 milhões de habitantes, a maior quantidade de pessoas geridas por um partido no País.

O presidente nacional do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), declarou que a legenda vai dar todo o suporte possível para Nunes administrar a capital paulista. Baleia afirmou estar bastante triste com a morte de Bruno Covas e lembrou que exerceu junto com ele o mandato de deputado estadual, além de sempre estarem dentro do mesmo grupo político na cidade.

"(Ricardo Nunes) Terá todo apoio do partido para manter toda equipe que está fazendo um belo trabalho na capital, buscando executar o plano apresentado por Bruno e Ricardo na campanha", afirmou o presidente do MDB ao Estadão.

O líder do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões (AL), foi na mesma linha do que disseram Nunes e Baleia: “A expectativa é que o prefeito, assumindo em uma adversidade dessa, deverá dar uma linha de continuidade, tem uma sintonia muito grande com o prefeito Bruno, logicamente imprimindo seu estilo. Não há o que comemorar, muito pelo contrário. A consequência no cenário (o MDB no cenário nacional), isso aí o tempo dirá dentro do trabalho que ele fizer lá".

Respeitado na Câmara Municipal, onde passou oito anos como vereador, mas classificado como “inexperiente” para a nova função, Nunes diz ter como “trunfo” o conhecimento, em detalhes, das contas municipais. Quando parlamentar, participou ativamente da elaboração das sete das oito leis orçamentárias aprovadas durante seus dois mandatos, além de CPIs com foco fiscal.

Ao se sentir confortável na cadeira, o emedebista vai não somente passar a ditar as regras para o uso dos recursos públicos como também anunciar ações prioritárias. Considerado conservador e mais à direita no espectro político do que Covas, o novo prefeito pretende, por exemplo, lançar mão de parcerias com entidades religiosas para convencer usuários da cracolândia a aceitar tratamento e moradores de rua a desmontar suas tendas e aceitar abrigo em albergues da cidade.

Na condução de medidas relacionadas à pandemia, a expectativa é a de seguir os critérios técnicos utilizados até aqui pela Prefeitura para liberar mais alunos nas salas de aula, por exemplo, ou ampliar a ocupação de estabelecimentos comerciais.

3 perguntas para Marco Antonio Teixeira, cientista político

1. O que significa para a distribuição de forças políticas na capital a chegada de Ricardo Nunes e do MDB à Prefeitura de São Paulo?

Ao assumir a capital, Nunes pode tirar o MDB do ostracismo em São Paulo. O último candidato competitivo da legenda na cidade foi João Leiva, que, em 1988, ficou em terceiro lugar na disputa vencida por Luiza Erundina. Hoje, a bancada tem apenas dois vereadores, e o próprio Nunes teve uma atuação discreta na Câmara (municipal), compondo a base governista com o poderoso atual presidente do Legislativo paulistano, Milton Leite (DEM).

2. O MDB tende a conquistar mais espaço na administração, com cargos de primeiro escalão?

É preciso dar tempo ao luto. Só mais tarde será possível entender como vão se compor as forças. Até porque Nunes tem mais vínculo político com Milton Leite do que com o próprio MDB. Nunes era do ‘centrão’ da Câmara, forjado por Leite. Por enquanto, entendo que o protagonismo da Prefeitura continuará sendo do PSDB. Não vejo condições de o MDB reivindicar mais espaço na gestão. O fato é que Leite tende a ampliar seu poder junto à Prefeitura. É ele quem garante a governabilidade na Câmara.

3. E como fica o PSDB?

O governador João Doria tende a dominar o PSDB em São Paulo, sem figura capaz de rivalizar com ele. Bruno Covas era o único que poderia de fato cumprir esse papel na cidade e no Estado.

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