No 1º semestre, a vacina russa Sputnik V foi vista por governadores como alternativa para a escassez de doses no Brasil. Agora, as restrições de uso e a demora na definição de cronograma de envio do 1º lote ao Nordeste têm desanimado governadores de outros Estados, que já preveem desistir da compra. Mato Grosso do Sul já confirmou o recuo e Minas Gerais deu prazo até esta semana para receber a remessa.
Neste mês, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que a Sputnik não será incluída no Programa Nacional de Imunizações (PNI), uma vez que já existe um volume suficiente de outras vacinas encomendadas pelo governo federal. O Fundo Russo, responsável pela Sputnik, afirmou que essa sinalização de Queiroga põe em risco o envio do 1º lote ao Nordeste, de 1,6 milhão de doses, segundo os governadores da região. A remessa era prevista para o dia 28, mas na semana passada o Fundo Russo disse que só confirmaria o envio na última sexta-feira – a resposta não chegou até sábado.
Secretário estadual de Saúde de Minas, Fábio Baccheretti disse anteontem que, se a Sputnik não for entregue ao Estado ainda em julho, o "caminho previsto" é cancelar a importação do imunizante. "Caso essa vacina não chegue agora, pelo adiantamento do nosso calendário, não valeria a pena esforço tão grande e investimento tão grande", afirmou em coletiva de imprensa o secretário.
Assim como outros 15 Estados, Minas conseguiu autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para importar a Sputnik para aplicação em 1% da população do Estado – que equivale a 428 mil doses da Sputnik V. "Estamos em tratativas e negociações com o Fundo Soberano Russo para que a gente consiga, sim, trazer", destacou Baccheretti. Porém, segundo ele, os indícios não se mostram tão favoráveis.
O governo argentino também tem pressionado a Rússia para acelerar as entregas – o país vizinho já enfrenta atraso na aplicação da 2ª dose. Anteontem, o Kremlin informou trabalhar para resolver o problema, mas ressaltou que sua prioridade é a demanda interna.
Para o secretário de Saúde do Mato Grosso do Sul, Geraldo Resende, foram as mais de 20 condições listadas pela Anvisa que fizeram o Estado perder o interesse. Ele explica que o governo até chegou a assinar carta de intenção de compra no início da negociação junto ao Consórcio Brasil Central – formado por Estados do Centro-Oeste e agregados, como Rondônia e Tocantins –, mas desistiu.
"As condicionantes postas, principalmente de só poder comprar para 1% da população, e o processo de morosidade da entrega, fazem não compensar", disse. Principalmente, reforça Resende, por conta de o Mato Grosso do Sul ser o Estado cuja imunização completa está mais avançada no País. Cerca de 41% da população adulta do Estado está completamente imunizada contra a covid-19.
Pela determinação da Anvisa, a vacina deve ser aplicada só em 1% da população, em unidades especializadas e com monitoramento posterior. "O melhor caminho que nós devemos fazer é continuar recebendo as doses do Ministério da Saúde e vacinando com a máxima velocidade", disse Resende ao Estadão.
Indefinição
Procurado, o Consórcio Nordeste informou que, até ontem, ainda não tinha recebido retorno do Fundo Russo. Em nota, o ministério disse que os imunizantes ofertados pelo PNI devem ter registro de uso emergencial ou definitivo da Anvisa. "A pasta esclarece que o processo de compra da vacina Sputnik segue em análise."
Responsável pela produção da Sputnik V no Brasil, a União Química, que ainda tenta aprovar o uso emergencial do imunizante, informou que espera a chegada da vacina "o quanto antes". Destacou, ainda, que a efetividade e segurança do produto têm se mostrado satisfatórias no exterior.
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