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Petrópolis - Rio de Janeiro

Número de desaparecidos em Petrópolis sobe para 218

Bombeiros enfrentam dificuldades para chegar a alguns locais, por causa dos escombros e desabamentos.

O número de pessoas desaparecidas em Petrópolis subiu para 218 e o de mortos chegou a 136 – das quais 84 haviam sido identificadas até o fim da noite de sexta-feira. Bombeiros enfrentam dificuldades para chegar a alguns locais, por causa dos escombros e do risco de novos desabamentos.

Funcionários da prefeitura e moradores trabalham com tratores, escavadeiras, pás e até com as próprias mãos para remover entulhos, desobstruir ruas e tentar dar algum ar de normalidade à cidade serrana. Pelo menos 967 pessoas estão desabrigadas.


“Ainda tem muita gente desaparecida”, constata o capitão licenciado do Corpo de Bombeiros Leonardo Farah, que trabalhou nas tragédias de Mariana e Brumadinho e, agora, está voluntariamente em Petrópolis. No primeiro dia após o temporal, Farah conseguiu resgatar duas pessoas com vida dos escombros, uma mulher de 46 e uma criança de 11 anos. Conforme os dias vão passando, no entanto, as chances de ainda encontrar alguém com vida são reduzidas.

Farah contou que há muita dificuldade de locomoção para as equipes de resgate e alguns locais onde houve deslizamento estão praticamente isolados. Além disso, afirmou, em muitos lugares não há sinal de celular. “As pessoas estão muito desesperadas, querendo ajuda, querendo que os bombeiros cheguem mais rápido, mas há muita dificuldade de acesso a várias regiões”, explicou. “A cidade está toda destruída, inteiramente colapsada. Para chegarmos na frente de trabalho é difícil, muitas vezes os carros não chegam e é preciso ter maneiras de tirar as equipes rapidamente de lá, se houver um novo deslizamento.”

Na Paróquia Santo Antônio do Alto da Serra, que fica próxima de uma das áreas mais atingidas pelos deslizamentos, dezenas de pessoas estão abrigadas sem saber o que será do futuro. Duas dúvidas são comuns à maioria: se poderão em algum momento voltar às casas, e qual o paradeiro de amigos e vizinhos que constam como desaparecidos.

“Minha vizinha Rosa e o neto dela, o Davi, estão desaparecidos”, contou Viviane de Souza, de 42 anos. “Tem também a dona Selma e o Gustavo”, acrescentou. Ela não soube informar os sobrenomes dessas pessoas – no Alto da Serra, a convivência harmoniosa entre muitos vizinhos dispensava formalidades.

A própria Viviane por muito pouco não acabou entrando na trágica estatística de vítimas dos deslizamentos de terça-feira. Pouco depois do início das chuvas, ela recebeu uma ligação de uma filha, que mora em uma casa ao lado, informando sobre uma infiltração de água no terceiro andar. Depois, uma outra filha, que mora com ela, relatou que a água começava a entrar por todos os lados da casa onde estavam.

“Toquei na parede do quarto e fez um buraco. Depois, o buraco ficou maior. Pensei: ‘A minha casa vai cair’. Saí gritando para todo mundo sair de casa”, narrou. “Corremos até o portão, e quando começamos a descer a rua a gente viu uma pedra rolar morro abaixo. Comecei a bater na porta do vizinho, pedindo socorro. Ele me deixou entrar. Fui até a varanda do lado da casa dele e vi todo o estrago.”

Perto dali, Yasmin Kenner Narciso Pereira, de 26 anos, viveu um drama semelhante. “Começou a chuva e logo depois começamos a ouvir o barulho de pedras rolando morro abaixo. Vimos casas sendo derrubadas. Ouvimos pedidos de socorro, ajuda. Foi desesperador”, contou.

Ao todo, 12 pessoas da família que moravam em três casas no mesmo terreno tiveram de abandonar tudo. Desde aquela noite, elas estão abrigadas na Paróquia Santo Antônio. “A gente recebe almoço, café da manhã e lanche da tarde. Estamos muito bem cuidados. Mas a gente sente muita falta de casa. Falta a nossa casa”, lamentou.

Como quase todos que perderam suas moradias com os deslizamentos, Yasmin também vive a angústia de não saber o que aconteceu com muitos de seus vizinhos. “O vizinho de cima, infelizmente, acharam o corpo dele. Uma outra ficou presa nos escombros, e acabou que ninguém conseguiu ajudar ela naquele dia. É bem complicado isso tudo, mas a esperança a gente sempre tem”, assinalou.

Pela manhã, o prefeito de Petrópolis, Rubens Bomtempo (PSB), disse logo após encontro com o presidente Jair Bolsonaro que a cidade tem como principal prioridade o resgate das vítimas, mas assinalou a importância de desobstruir as vias para facilitar o trabalho de todos, até de reconstrução.

“Num primeiro momento, nossa maior prioridade são as frentes de trabalho de resgate às vítimas. Num segundo momento, já concomitante, liberar as principais artérias do município para poder manter e garantir os serviços essenciais, como retorno da luz, coleta de lixo, transporte público e, também, poder acolher todas as vítimas e seus familiares”, comentou Bomtempo. Nesta sexta-feira, o trabalho de limpeza das vias se intensificou, em especial na região do centro histórico da cidade de Petrópolis.

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