O juiz Sérgio Moro absolveu Cláudia Cruz, esposa do ex-deputado Eduardo Cunha, dos crimes de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Moro afirmou na sentença que não há prova de que a jornalista teve participação no crime de corrupção praticado por Cunha e de que tenha participado conscientemente nas condutas de ocultação e dissimulação.
Cláudia era acusada por ter utilizado valores provenientes de corrupção praticada por Eduardo Cunha em compras de luxo no exterior. Os valores teriam sido obtidos pela interferência de Cunha na contratação, pela Petrobras, de uma plataforma de petróleo em Benin. O ex-deputado foi condenado a 15 anos e quatro meses de prisão pelo crime em processo separado.
A sentença diz ainda que não há nada de errado nos gastos, mas que eles são extravagantes e inconsistentes para ela e para sua família, o que deveria ter sido percebido por Cláudia Cruz.
“Embora tal comportamento seja altamente reprovável, ele leva à conclusão de que a acusada Cláudia Cordeiro Cruz foi negligente quanto às fontes de rendimento do marido e quanto aos seus gastos pessoais e da família. Não é, porém, o suficiente para condená-la por lavagem de dinheiro”, disse o juiz.
O criminalista Pier Paolo da Cruz Bottini, responsável pela defesa da jornalista, demonstrou satisfação com a decisão: “A sentença reconhece que ela (Cláudia Cruz) não praticou nenhum ato ilícito e nós consideramos que foi feita a justiça”.
- Foto: Rodrigo Féliz Leal/Futura Press/Estadão ConteúdoCláudia Cruz
No entanto, o juiz Sérgio Moro condenou o ex-diretor da Petrobras, Jorge Zelada, por corrupção passiva, e o operador João Augusto Rezende Henriques por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
As investigações da Lava-Jato apontaram que as contas vinculadas aos cartões de crédito utilizados pela jornalista eram abastecidas com propina recebida por Cunha. Ela fez gastos em lojas de grife e bens de luxo no exterior. Cruz é acusada de lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
A tese da defesa de Cláudia Cruz é de que ela desconhecia a origem dos recursos das contas vinculadas aos seus cartões de crédito.
Cláudia virou ré na Lava-Jato em junho do ano passado. De acordo com os investigadores, há indícios de que parte da propina desviada da Petrobras abasteceu contas no exterior em nome de off-shores e trusts usados para pagar cartões de crédito internacional utilizados por Cláudia Cruz.
Para a força-tarefa da Lava-Jato, a jornalista tinha plena consciência dos crimes que praticava, sendo a única controladora da conta em nome da offshore Köpek, na Suíça, por meio da qual pagou despesas de cartão de crédito no exterior. Entre 2008 e 2014, ela gastou mais de US$ 1 milhão, o que de acordo com a denúncia do MPF, é “totalmente incompatível com os salários e o patrimônio lícito” dela e de Cunha. Quase a totalidade do dinheiro depositado na Köpek (99,7%) teve origem em contas pertencentes a Eduardo Cunha.
As investigações apontam ainda que “por meio da mesma conta Köpek a acusada também se favoreceu de parte de valores de uma propina de cerca de US$ 1,5 milhão que seu marido recebeu para 'viabilizar' a aquisição, pela Petrobras, de 50% do bloco 4 de um campo de exploração de petróleo na costa do Benin, na África, em 2011". A defesa de Cláudia Cruz alegou que não houve ocultação de recursos.
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