Wanessa Gommes
No Piauí, a luta contra as facções criminosas ganhou, em março de 2023, um novo capítulo com a criação do Departamento de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (DRACO), uma unidade pioneira dedicada ao combate dessas organizações.
Em entrevista ao GP1, o delegado Charles Pessoa, coordenador do DRACO, destacou os desafios e conquistas enfrentados por essa unidade, que surgiu como uma iniciativa inovadora no cenário do combate ao crime organizado e que este mês completa um ano de atuação.
"O DRACO foi criado em março de 2023 com o objetivo claro de atuar no combate às facções criminosas. O Piauí vinha enfrentando problemas significativos relacionados à segurança pública, especialmente, no que diz respeito ao aumento dos índices de homicídios e à disseminação da criminalidade violenta. Então, identificamos que muitos desses aumentos estavam diretamente ligados à atuação dessas facções criminosas", afirmou Charles Pessoa.
Segundo o delegado, em cumprimento às diretrizes da gestão atual da Secretaria de Segurança, a criação do DRACO representou um esforço coordenado para enfrentar esse desafio. “O departamento é composto por cinco delegacias, distribuídas estrategicamente em diferentes territórios do estado, incluindo, unidades na capital, Teresina, e no interior, vinculadas à Diretoria de Polícia do Interior, mas que atuam de forma integrada com o DRACO aqui na capital”, afirmou Charles Pessoa.
“Um dos nossos objetivos é desenvolver algumas atividades no interior. No mês passado, o DRACO deflagrou uma importante operação na região de São Raimundo Nonato e conseguiu elucidar alguns crimes que tinham relação com facções criminosas e temos o objetivo de deflagrar outras ações no interior”, completou o delegado Charles Pessoa.
Início do DRACO
Sobre o início do departamento, o delegado Charles Pessoa contou que houve todo um processo com o desenvolvimento de metodologia e metas para o DRACO. “Nós desenhamos essa metodologia, desenvolvemos um trabalho inicial com intuito de identificar regiões territoriais que tinham células de facções criminosas, fizemos o monitoramento, realizamos o diagnóstico, identificamos os personagens, os membros que integravam as células e iniciamos processo de deflagração de operação”, declarou.
“Esse planejamento previu também algumas metas e dentro dessas metas para 2023 nós tínhamos a realização de 500 prisões e batemos essa meta ainda no mês de novembro. Então, nós concluímos 2023 com mais de 500 prisões”, pontuou Charles Pessoa.
Ainda conforme o delegado, outra meta cumprida foi a de deflagrar a operação de número 100 até o mês de criação do DRACO. “Nós também tínhamos a meta de chegar a operação DRACO 100 no mês de aniversário do DRACO e deflagramos agora a DRACO 100 que é uma operação que está sendo dividida em várias fases, já deflagramos duas fases com 80 mandados judiciais, sendo que desses 80, aproximadamente 40 pessoas já foram presas. Teremos outros presos e o nosso objetivo é concluir a DRACO 100 nesse mês de março ainda”, ressaltou Charles Pessoa.
Principal desafio do DRACO
Nesse primeiro ano, a principal dificuldade encontrada dentro do departamento foi, segundo Charles Pessoa, justamente o fato de ser uma nova unidade, que surgiu do zero. “Com certeza, o principal desafio foi o fato de ser uma unidade nova, porque além de ser uma unidade nova nessa modalidade de combate às facções, com essa metodologia desenvolvida no Piauí que é pioneira em várias partes, tivemos que desenhar uma metodologia praticamente do zero com esse foco voltado a combater as facções criminosas”, enfatizou.
Esse contexto de novidade trouxe ainda uma motivação extraordinária para toda a equipe envolvida no DRACO, como assegurou o delegado Charles Pessoa. “Mas esses desafios trazem uma motivação para a própria equipe formada por todos, escrivães, delegados, agentes, policiais militares que integram o departamento, policiais penais estaduais e federais, o quadro administrativo, todos nós entendemos a importância desse processo de combate às facções criminosas e todos nós nos sentimos parte desse processo e por isso o resultado tem apresentado números positivos”, elogiou.
“Além da integração de várias outras unidades, da Polícia Militar, Feisp, Inteligência, Guarda Municipal e também com o próprio Ministério Público e Poder Judiciário que tem analisado e deferido as nossas cautelares”, continuou o delegado Charles Pessoa.
Papel do DRACO
Em meio aos desafios constantes enfrentados pela Segurança Pública do Piauí, o DRACO emerge como uma peça fundamental na luta contra a criminalidade que vai além da simples repressão, pois o seu objetivo é promover um ambiente mais seguro para todos os cidadãos.
“O nosso papel é contribuir com a Segurança Pública do estado do Piauí na redução dessa criminalidade, principalmente, a criminalidade violenta e a gente faz isso enfraquecendo as facções criminosas porque quando você retira um faccionado de circulação como consequência você está evitando crimes, especialmente, os crimes violentos como roubo e homicídio por que são essas pessoas que são responsáveis pelo aumento desses números. Então, um dos nossos objetivos é contribuir para que a sociedade piauiense tenha mais segurança”, pontou Charles Pessoa.
Momento singular
À frente do DRACO, Charles Pessoa destacou que o Piauí está vivendo o melhor momento nessa luta contra as facções e elencou alguns dos fatores que contribuíram para isso. “Eu acredito que nós estamos vivendo a melhor fase do combate às facções criminosas da história do Piauí. Primeiro, a gestão está apoiando e também nos fornecendo todo o material logístico, humano, toda a estrutura realmente para que a gente consiga apresentar o resultado. Todo o sistema de Segurança Pública do estado do Piauí está apoiando esse projeto aqui do DRACO, o Poder Judiciário, o Ministério Público, a imprensa que também é fundamental nesse processo e a sociedade de forma geral”, disse.
Estratégias
Um dos pontos principais que garantiu a eficácia das ações do DRACO no estado foi o planejamento, conforme relatado pelo delegado Charles Pessoa. “Dentre as estratégias adotadas pelo departamento a que garantiu a eficácia das ações foi o planejamento que foi elaborado previamente e o primeiro ato deste planejamento foi gerar um diagnóstico. Nós conseguimos elaborar um diagnóstico da atuação das facções criminosas aqui no estado do Piauí. Todos os operadores do DRACO se reuniram na ACADEPOL e elaboramos um planejamento estratégico com esse foco. Então, com certeza uma ferramenta fundamental foi a elaboração de um planejamento prévio que nos direcionou para que a gente conseguisse atuar no combate às facções criminosas”, afirmou.
“Além disso aqui nós temos equipamentos modernos. Então, nós temos realmente o apoio da própria tecnologia. São ferramentas modernas que a gente usa com esse viés que é de atuar nas investigações relacionadas às facções criminosas”, explanou Charles Pessoa.
Capacitação
Outro ponto destacado por Charles Pessoa foi a capacitação dos policiais que atuam no DRACO. “Todos os policiais do departamento passaram por um processo de capacitação para entender realmente a atuação dessas facções criminosas e entender a metodologia para que a gente conseguisse aplicar na prática”, contou.
“Então, todos os operadores sentaram, foram para sala de aula para entender essa metodologia para que a gente conseguisse aplicar esse processo de capacitação que é um dos cuidados fundamentais do DRACO”, complementou Charles Pessoa.
Aproximação com a comunidade
Nesse cenário desafiador do combate à criminalidade organizada, o DRACO tem encontrado apoio e colaboração da comunidade que, conforme Charles Pessoa, é essencial para o sucesso das iniciativas de Segurança Pública.
“Dentre as ações que nós elencamos estava a aproximação da comunidade. Então, uma vez por semana equipes do DRACO visitam todos os locais onde já deflagramos as operações e a gente conversa com a sociedade porque precisamos desse termômetro da sociedade. Nós estamos no caminho certo? Era isso que você precisava? Era isso que você esperava do DRACO para trazer esse conforto no que diz respeito à Segurança Pública para vocês que estão nesse contexto territorial?”, disse Charles Pessoa.
No enfrentamento à criminalidade, o delegado Charles Pessoa ressaltou a importância de dialogar diretamente com a sociedade, especialmente nas escolas, para conscientizar educadores e alunos sobre os perigos das facções criminosas. “Nós conversamos com a sociedade, em visitas às escolas conversamos com os educadores, com os próprios alunos para que eles entendam realmente esse fenômeno dessa criminalidade das facções criminosas para que eles consigam atuar de forma preventiva e também identificar alguns traços ali de familiares ou de alunos, por exemplo, que estejam se aproximando dessas facções criminosas para que a gente consiga se antecipar e atuar de forma preventiva e não apenas na retração”, estendeu o coordenador do DRACO.
“Então, essa resposta da comunidade tem sido extremamente positiva, a sociedade piauiense nos recepciona muito bem e dá esse feedback demonstrando o que é fundamental nesse processo de combate à criminalidade organizada”, estendeu Charles Pessoa.
Operação contra ataques a ônibus
Em abril de 2023, uma reação de bandidos às primeiras ações do DRACO resultou em uma das operações mais importantes do departamento, conforme Charles Pessoa. “Nós tivemos uma das primeiras operações, foi uma operação na Vila Mocambinho onde criminosos incendiaram alguns ônibus em uma noite e já no dia seguinte, seis horas da manhã, nós já estávamos com todo o aparato de Segurança Pública com mais 150 agentes, tanto da Polícia Civil quanto da Polícia Militar, a Guarda Municipal, Polícia Penal, e conseguimos prender as pessoas que praticaram esses atos de vandalismo e integravam facção criminosa”, lembrou.
“Ela teve uma representatividade muito grande porque dentro desse desenho do planejamento estratégico a gente já tinha uma previsão que poderiam acontecer alguns ataques provocados por esses membros de facções criminosas a prédios públicos, incendiar veículos, ônibus, por quê? Porque eles já fizeram isso em outros estados”, explanou Charles Pessoa.
A experiência de Charles Pessoa garantiu uma ação rápida e exitosa da polícia para que esse tipo de reação fosse reprimido. “Eu venho estudando facção criminosa há 14 anos. Então, eu me dediquei muito no decorrer desses 14 anos para entender as facções criminosas no Brasil. Viajei para diversas unidades da federação, visitei praticamente todos os estados do Brasil para entender esse fenômeno, então nós já tínhamos nos deparado com essas situações em outros estados e, por isso, a gente tinha uma previsão que isso poderia acontecer aqui, então já deixamos algumas ações prontas para serem deflagradas”, ressaltou o delegado.
História de Charles Pessoa na Segurança Pública
“Eu entrei na Segurança Pública em 2009 como agente penitenciário federal hoje, policial penal federal e, o sistema penitenciário federal é responsável por custodiar as principais lideranças dessas facções criminosas. Lá eu tive o primeiro contato com essas pessoas, com essas lideranças que integram facção criminosa. E foi lá que eu iniciei o estudo sobre facções criminosas”, contou Charles Pessoa.
O coordenador do DRACO disse ainda que veio ao Piauí há 13 anos para iniciar a implementação de um projeto com a metodologia federal. “Eu vim para o estado do Piauí em uma missão em 2011 com sete policiais penais federais que desenharam um projeto para implementar a metodologia de competência federal nos estados”, relatou Charles Pessoa.
“O Piauí inaugurou uma unidade prisional em São Raimundo Nonato em 2011 que foi a primeira unidade prisional estadual a receber essa metodologia. E de lá para cá essa unidade nunca apresentou uma fuga, uma rebelião, uma morte ou entrada de materiais ilícitos e essa metodologia foi multiplicada para os outros estados e eu participei desse projeto inicial”, declarou o delegado Charles Pessoa.
Início das facções no Piauí
Conhecedor de como atuavam as facções, Charles Pessoa acompanhou o surgimento da primeira facção no Piauí, há quase 10 anos. “Em 2016 eu assumi como delegado de Polícia Civil do estado do Piauí, fiquei quatro meses em uma força tarefa aqui em Teresina e como eu já estudava facção criminosa, nessa força tarefa eu iniciei os estudos para tentar identificar as células de facção. E nós identificamos a primeira célula de facção criminosa que estava surgindo [o Primeiro Comando da Capital]”, lembrou.
“As facções criminosas surgiram aqui no estado do Piauí no final de 2015, início de 2016, então foi a célula inicial, o foco inicial foi nessa época. Eu iniciei esse acompanhamento das facções criminosas no estado do Piauí no seu surgimento. Depois eu fui para o interior do estado, seis meses depois eu voltei para a capital novamente para atuar na Diretoria de Inteligência da Secretaria de Segurança, em 2019 até o final de 2022 eu fui diretor de inteligência da Secretaria de Justiça e em 2023 eu tive o privilégio de retornar para a Secretaria de Segurança Pública para coordenar esse projeto com as facções aqui no estado”, descreveu Charles Pessoa.
Planos e metas para 2024
O DRACO segue um planejamento montado no início das ações do departamento e que vai sofrendo as modificações para se adequar às novas necessidades de 2024.
“Nós temos um planejamento elaborado em 2023, então a gente não foge muito do nosso planejamento, nós apenas amadurecemos o nosso planejamento, as nossas ações e estamos aperfeiçoando esse planejamento para 2024 e a primeira meta de 2024 é terminar os três primeiros meses do ano com pelo menos 150 prisões, uma meta audaciosa, e estamos em campo para bater essa meta até o final do mês de março”, explicou Charles Pessoa.
Expansão das ações para fora do Piauí
O DRACO tem também o objetivo de romper as divisas do Piauí com operações interestaduais. Nesse contexto, o departamento já realizou três operações com prisões.
“Nós estamos aperfeiçoando o nosso planejamento para alargar mais os nossos braços tanto para região metropolitana como para algumas regiões do interior do estado e também atuar de forma integrada com outras unidades da federação deflagrando operações interestaduais que só esse ano já foram deflagradas três, uma com prisões em São Paulo e Mato Grosso do Sul, outra com prisão no Ceará e outra com prisão no estado do Goiás”, concluiu o delegado Charles Pessoa.
Com uma abordagem estratégica e dedicada, o DRACO desempenha um papel vital na manutenção da ordem e na proteção dos cidadãos do Piauí ao combater facções criminosas e reduzir a criminalidade.
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