O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez duras críticas às grandes corporações de tecnologia, conhecidas como "big techs", nesta quarta-feira (26), durante a abertura da primeira reunião de Sherpas dos países membros do Brics, evento presidido pelo Brasil este ano. Lula acusou essas corporações de usarem a desinformação para “silenciar e desestabilizar nações inteiras” e ressaltou que a inteligência artificial (IA) não pode ser monopolizada por poucos países e empresas, deixando os países do Sul Global à margem dessa tecnologia.

Em seu discurso no Palácio do Itamaraty, em Brasília, Lula destacou os desafios éticos, sociais e econômicos trazidos pela IA, e defendeu que o Brics deve assumir a responsabilidade de promover uma governança mais justa e equitativa dessa tecnologia. “Grandes corporações não têm o direito de silenciar e desestabilizar nações inteiras com desinformação”, afirmou o presidente, enfatizando a necessidade de que a discussão sobre a governança da IA seja guiada pelas Nações Unidas.

Foto: Ricardo Stuckert/PR
Lula

O presidente brasileiro também sublinhou a importância de garantir que a distribuição dessa tecnologia não favoreça apenas alguns países desenvolvidos, colocando os países do Sul Global em desvantagem. “Não podemos permitir que a distribuição desigual dessa tecnologia deixe os países do Sul Global à margem”, completou.

Além disso, Lula reiterou seu compromisso com a construção de um “mundo multipolar” e relações internacionais “menos assimétricas”, com um foco particular na reforma da governança da ONU e do Conselho de Segurança, uma pauta que ele tenta avançar desde o início de seu terceiro mandato. A presidência brasileira do Brics, segundo ele, será uma oportunidade para fortalecer essas discussões.

Em outro momento do discurso, o presidente criticou a "escalada protecionista do comércio e investimentos", referindo-se às sobretaxas impostas pelos Estados Unidos a outros países, embora não tenha citado diretamente o país. A crítica à política comercial dos EUA tem sido um tema recorrente nas falas de Lula. "Reforça a importância de medidas que busquem superar os entraves à nossa integração econômica", afirmou.

Lula também retomou a defesa pela criação de novas opções de pagamentos internacionais “voluntárias, acessíveis, transparentes e seguras”, buscando reduzir as vulnerabilidades e custos do sistema financeiro global. Em ocasiões anteriores, o presidente já sugeriu a possibilidade de substituir o dólar nas transações comerciais entre os países do Brics, uma proposta que gerou tensões, especialmente com o governo de Donald Trump.

"Precisamos de soluções que diversifiquem e agreguem valor à produção de países em desenvolvimento", concluiu Lula, destacando a importância de criar alternativas que promovam a integração econômica entre as nações emergentes.