O corpo da pequena Anna Kerolayne Gomes Nunes , de 3 anos, que teve morte encefálica no HUT após ter sido torturada em Esperantina, onde estava vivendo com a mãe Maria Karolaine Nunes de Oliveira e o padrasto, está sendo velado na casa da tia, no bairro Lourival Parente, zona sul de Teresina.

O GP1 esteve na residência e conversou com Vanda Barros, tia paterna da criança. Bastante emocionada, ela contou como era Anna Kerolayne e, aos prantos, clamou por Justiça. “A Anna era uma menina muito doce, não tinha como não se apaixonar por ela, você passava só um pouquinho, não precisava nem de meia-hora e ela já te conquistava. Era muito carismática, gostava de dar beijo, de abraçar, uma criança meiga, era um amor de menina. Eu fico pensando: por quê? Só 3 aninhos e nas mãos de umas pessoas dessas, foi uma violência muito grande, estamos muito abalados e a gente só pede Justiça”, disse Vanda Barros.

Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
Anna Kerolayne Gomes Nunes

Criança e irmã eram cuidadas pela família paterna

Vanda Barros explicou que depois que o pai de Anna Kerolayne foi preso, a menina e a irmã, de 4 anos, ficaram sob os cuidados da família paterna em uma espécie de ‘guarda compartilhada’. “Toda a família é aqui de Teresina e os cuidados da Anna era tipo como uma ‘guardinha compartilhada’, que um dia passava um tempo com uma tia, um tempo com a avó, e todo mundo ajudava a cuidar dela e da irmã, Jéssica, de 4 anos. Então, a gente tinha isso, de se juntar para cuidar das meninas depois que o pai dela foi preso. Ela ficou com a minha tia, que é a avó paterna das crianças, mas como ela não tinha uma certa condição de cuidar sozinha das crianças, a família ajudou. Eu cuidava da Anna, e a minha prima passou a cuidar da Jéssica. Então, a gente cuidava, levava de volta para casa da minha tia e assim a gente foi se ajudando”, contou Vanda Barros.

Mãe levou as crianças para Esperantina

Ainda conforme a tia, a primeira vez que as crianças ficaram com a mãe foi em janeiro deste ano, quando a genitora veio a Teresina buscá-las para irem com ela para o município de Esperantina. “Até então, nunca tinha acontecido isso, delas ficarem com a mãe, mas em janeiro, quando as meninas já estavam matriculadas aqui em Teresina para estudar, minha tia deixou elas com a bisavó para passar uns dias. E a mãe foi lá pegar as meninas e as levou para Esperantina”, explicou Vanda Barros.

Foto: Lucas Dias/GP1
Tia da criança, Vanda Barros

Crianças não estavam sendo bem cuidadas

“As meninas chegaram muito diferentes do que foram. Elas foram bem gordinhas, cabelo grande, e a Anna voltou assim, e a outra está magrinha, com bastante piolho, mal cuidada. Nós estamos sofrendo, isso não é coisa de Deus”, detalhou Vanda Barros.

A tia reforçou ainda que o dever de todo pai e mãe é cuidar e zelar pelos seus filhos, tudo o que Anna e Jéssica não tiveram. “A obrigação do pai e da mãe é cuidar, zelar pelo filho, educar, proteger, acolher, mas ela não teve isso da mãe dela, que foi um monstro porque, segundo as informações, foi ela [quem agrediu] e mesmo que não tenha sido ela, que tenha sido o companheiro, ela é um monstro do mesmo jeito”, declarou Vanda Barros.

Retorno foi no caixão

Segundo Vanda Barros, a tia dela ficou aguardando o retorno das crianças de Esperantina, tendo em vista a proximidade do início das aulas. “Apesar disso, as crianças não foram devolvidas. Somente agora foi que a criança veio, em um caixão. Nós ficamos sabendo da entrada dela no HUT no dia 15 de abril, já bastante machucada, com traumatismo craniano, duas clavículas quebradas, ombro deslocado, perda dos rins, com trauma no abdômen, bastante machucada”, explanou a tia.

Foto: Lucas Dias/GP1
Casa onde acontece o velório de Ana

“A gente começou uma corrente de oração pela vida da Anna, mas ela foi a óbito. Isso nos abalou demais, a forma como ocorreu isso com ela. Ela sofreu muito, foi bastante agredida”, lamentou Vanda Barros.

O sepultamento de Anna Kerolayne Gomes Nunes será às 16h, no Cemitério Santa Cruz, no bairro Promorar, zona sul de Teresina.

Investigações sobre o caso estão em andamento

Com a prisões temporárias de Maria Karolaine Nunes de Oliveira e de seu companheiro, que não teve o nome revelado, as investigações sobre o caso seguem em andamento. A Polícia Civil do Piauí tem o prazo de 30 dias, a contar da data da prisão de Maria Karolaine para relatar o inquérito policial e encaminhá-lo ao Ministério Público.

Entenda o caso

No dia 15 de abril deste ano, o Serviço de Assistência Social do Hospital Júlio Hartman, da cidade de Esperantina, comunicou ao Conselho Tutelar uma suspeita de crime de maus-tratos contra uma criança de 3 anos, que foi admitida na unidade médica em estado grave. Imediatamente, foi instaurado um inquérito policial para apurar os fatos.

Anna Kerolayne Gomes Nunes foi transferida para o Hospital de Urgência de Teresina (HUT), onde acabou tendo a morte encefálica decretada pela junta médica, nessa segunda-feira (22).

No decorrer das investigações, após diligências, incluindo requisições periciais e diversas oitivas, verificou-se as condutas de crime de homicídio qualificado não somente pelo feminicídio, como também pela tortura. Em razão disso, a mãe e o padrasto de Anna Kerolayne Gomes Nunes, foram presos ainda nessa segunda, acusados de torturar e matar a criança de apenas 3 anos. Os mandados de prisão temporária foram cumpridos em operação conjunta da Polícia Civil e Polícia Militar do Piauí em Esperantina.

Foto: Divulgação/PC-PI
Mãe e padrasto presos

Conforme a Polícia Civil, os acusados foram investigados pelos crimes de homicídio qualificado e tortura em contexto de violência doméstica e familiar contra a criança. Durante as diligências, além das prisões, foram apreendidos vários aparelhos celulares vinculados ao caso, que serão analisados para auxiliar nas investigações.