A delegada Milena Caland , da Delegacia de Direitos Humanos e Defesa Institucional da Polícia Federal no Piauí , afirmou nesta sexta-feira (04) que o candidato a vereador de Teresina, Érico da Luta (Avante), será alvo de inquérito pelos crimes de compra de votos e associação criminosa. Na noite de ontem, policiais federais apreenderam o total de R$ 145.950,00 durante evento político do candidato, na Associação dos Praças do Estado do Piauí (Aspra-PI), na Avenida São Raimundo, bairro Cristo Rei, na zona sul de Teresina.
Conforme a delegada, no local, foram observadas filas de pessoas que receberam senhas e fichas que correspondiam a valores de R$ 100 para quem possuía motos e R$ 200 para quem tinha carros, previamente adesivados com propaganda política do candidato. Esses adesivos, colocados cerca de quinze dias antes, habilitavam os proprietários a receber a quantia prometida como forma de recompensa.
“Nós recebemos uma denúncia anônima de que, no dia de ontem, haveria um evento de natureza política em que seria distribuído numerário. Com base nessa denúncia, fizemos diligências preliminares que confirmaram tanto o nome do candidato envolvido quanto o evento, que estava sendo amplamente divulgado em suas redes sociais, inclusive. Nós nos deslocamos até o local com certa antecedência, com o intuito de entender a realidade e o que nos esperava. Era um evento bem grande, com muitas pessoas e muito bem organizado. De fato, o candidato esteve presente, conforme denunciado. O que nos chamou atenção foi que havia distribuição de senhas, ou fichas, e essas fichas correspondiam a valores: 100 reais para pessoas com motos e 200 reais para aquelas com carros. Esses carros haviam sido previamente adesivados com propaganda política do candidato há cerca de quinze dias. Em razão desse 'adesivaço', as pessoas estariam habilitadas a comparecer ao local para receber o numerário prometido, funcionando como uma forma de recompensa: adesivou o carro, receberia 200 reais, conforme o tipo de veículo”, informou a delegada.
Organização do evento
Ainda segundo a delegada, houve tumulto durante a distribuição do dinheiro e, após a ação policial, foi apreendido um controle rigoroso com cadastros de eleitores, contendo nome, CPF e detalhes dos veículos, demonstrando a organização do esquema. Além disso, foi destacado que a maioria dos veículos eram de aplicativos, cuja adesivagem é proibida pela legislação eleitoral.
“De fato, muitas pessoas compareceram, e as filas estavam enormes. Não sei se vocês tiveram acesso aos vídeos, mas houve certo tumulto no momento da formação das filas, resultando em uma verdadeira desordem. Porém, com as senhas em mãos, as pessoas receberam os valores conforme combinado. O que também percebemos, após a ação e a apreensão do material, foi que havia uma organização muito grande, incluindo cadastros de pessoas com nome, CPF, veículo e placa. Havia um controle muito rígido de quem estava presente e por que. Outro fato que gostaria de destacar é que, em sua maioria, os veículos envolvidos eram de aplicativos, que estão proibidos de serem adesivados. A legislação eleitoral veda esse tipo de conduta. Então, o erro ocorreu em dois momentos: primeiro, pelo pagamento em troca do carro adesivado e, segundo, pela própria adesivagem dos veículos, o que a legislação eleitoral não permite”, detalhou Milena Caland.
Candidato tinha saído do local
Durante as diligências, policiais chegaram a procurar o candidato que promovia o evento, mas Érico da Luta não se encontrava mais no local. A delegada destacou que o crime de corrupção eleitoral aborda tanto quem compra quanto quem vende votos. Com isso, Érico será investigado como o principal beneficiário do esquema.
“Foram conduzidas dez pessoas. Como mencionei, havia muitas pessoas, cerca de mil, segundo a estimativa. Selecionamos aquelas que tinham ligação direta com o evento e com o candidato, pessoas que tinham poder de decisão, para não envolver quem sequer sabia o que estava acontecendo. Por isso, selecionamos dez pessoas, entre elas dois eleitores, para que pudéssemos ratificar a situação de negociação de voto. No monitoramento da Polícia Federal, o candidato estava presente. Ele se apresentou, fez sua propaganda política, mas, no momento da ação precisa, ele já havia se retirado do local. Sempre lembrando que a corrupção envolve tanto quem compra quanto quem vende. O crime é de dois lados. Também destacamos a associação criminosa, pois várias pessoas estavam envolvidas, e o candidato será investigado por ser o principal beneficiário da conduta", finalizou a delegada Milena Caland.