O chavismo venceu em 20 das 23 províncias do país, além do governo de Caracas, nas eleições regionais e locais com a menor participação dos últimos 20 anos na Venezuela: apenas 41,8% de participantes. O mapa eleitoral não mudou muito em relação ao que restava na última eleição de 2017, em que grande parte da oposição se absteve de participar e poucos partidos apresentaram candidatos sem plataforma unitária.
Quatro anos depois das contestadas eleições de 2017, o chavismo conquistou três importantes territórios em poder da oposição neste domingo: Anzoátegui, no leste do país, e os Estados andinos de Mérida e Táchira. A vitória mais contundente é a de Freddy Bernal em Táchira. Bernal é um ex-policial e dos militantes mais antigos da revolução bolivariana, desde os tempos do partido fundado por Hugo Chávez, a MVR. Foi prefeito de Caracas em dois mandatos, deputado e comissário do serviço de inteligência.
Desde 2016 é coordenador dos CLAPs, estruturas que organizam a distribuição de alimentos de baixo custo nos bairros pobres, que se tornaram a máquina política do chavismo. Sob seu controle esteve o fechamento ou abertura da fronteira com a Colômbia durante o ano passado e a gestão dos imigrantes que voltaram em meio à pandemia.
Cerca de 21 milhões de venezuelanos estavam registrados para eleger 3.082 representantes, incluindo 23 governadores, 335 prefeitos e vereadores. Mas apenas 41,8% votaram na eleição, muitos por estarem fora da Venezuela, de onde a crise econômica e o endurecimento do regime político expulsaram 5 milhões de pessoas nos últimos anos.
Os elevados níveis de abstenção, uma campanha opaca e sem recursos da oposição e a irremediável fragmentação das candidaturas levaram os opositores a um resultado eleitoral medíocre. Os partidos da oposição venceram no Estado de Zulia, o mais populoso do país, no qual triunfou Manuel Rosales, figura nacional e líder do Un Nuevo Tiempo. Também venceram na planície de Cojedes, nomeando Alberto Galíndez, da Acción Democrática, e na ilha de Margarita, um de seus tradicionais redutos, onde prevaleceu Morel Rodríguez apoiado por dissidentes ligados à chamada Aliança Democrática.
Apesar de todas as pesquisas de opinião do país mostrarem que mais de 80% da população gostaria que a mudança política ocorresse em paz, ninguém se surpreendeu com os maus resultados obtidos pela oposição.
Além de não ter recursos, a oposição se apresentou dividida, com dois e até três candidatos, em pelo menos oito Estados, alguns deles os mais importantes do país. Em várias acabou perdendo por pouca margem. “A abstenção registrada mostra o desinteresse pela questão pública. A Venezuela está exausta, não pode mais suportar a fila de políticos que fracassaram com o país”, disse ao El País Jesús Seguías, analista político e presidente da empresa Dataincorp.
Chancela de observadores internacionais
As eleições regionais deste domingo na Venezuela, as primeiras com a participação da oposição desde 2018, transcorreram tranquilamente, informou a diplomata portuguesa Isabel Santos, chefe da missão de observadores da União Europeia (UE), que acompanhou uma votação no país pela primeira vez em 16 anos. Além dos enviados da UE, 300 observadores, de 55 países, dividiram-se entre 14 mil locais de votação, segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
“Tudo transcorre tranquilamente. Algumas questões foram solucionadas de uma maneira ou de outra, mas são coisas que abordaremos depois”, disse Santos, após visitar uma seção eleitoral em Caracas, prometendo para terça-feira, 23 de novembro, um informe oficial sobre o trabalho realizado.
O informe dos observadores será importante para dar ou não legitimidade à votação, depois que a reeleição do presidente Nicolás Maduro, em 2018, não foi reconhecida pelos EUA, a União Europeia e vários países latino-americanos, entre eles o Brasil. Em seguida, os principais partidos opositores boicotaram também a eleição legislativa do ano passado.
Depois de votar, em Caracas, Maduro disse que os observadores haviam se comportado como era esperado. “Até agora, eles se comportaram à altura, respeitando a Constituição e as leis, e tomara que seja assim até o final da sua missão.”
O líder opositor Juan Guaidó — que em 2019, como então presidente da Assembleia Nacional, proclamou-se “presidente interino” da Venezuela e foi reconhecido como tal por mais de 50 países — não votou e manteve silêncio durante o dia. Ao longo da semana, ele havia sugerido que a oposição unificasse a luta contra Maduro depois das eleições. Dos dirigentes oposicionistas, o que mais defendeu a retomada da via eleitoral contra o chavismo foi Henrique Capriles, ex-governador do estado de Miranda e ex-candidato à Presidência.
Segundo o presidente do CNE, Pedro Calzadilla, foi insignificante o número de incidentes que impediram ou atrasaram os votos dos cidadãos. Como condição para a participação eleitoral dos opositores, o CNE foi reformado neste ano, incorporando nomes de fora do chavismo.
Voto de protesto
Até as eleições de domingo, o governista Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) detinha 19 dos 23 governos estaduais, além de 306 das 335 prefeituras. Das quatro coalizões de oposição, duas são mais relevantes: a Plataforma Unitária, formada por partidos como Primeiro Justiça (PJ) e Vontade Popular (VP), e a Aliança Democrática, liderada pelo ex-chavista e ex-candidato presidencial Henry Falcón.
Pesquisas recentes mostram que 42% dos venezuelanos se consideram eleitores da oposição, mas, destes, apenas 9% continuam respaldando Juan Guaidó. Outros 36% não estão do lado da oposição nem do governo.
A Venezuela, que tem as maiores reservas de petróleo do mundo, enfrenta um colapso econômico provocado pela má gestão e pela queda na década passada do preço do produto. O colapso foi agravado pelas sanções contra a estatal petrolífera PDVSA baixadas no governo de Donald Trump. Desde 2013, ano da morte de Hugo Chávez, o PIB do país teve queda de 75%.
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