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Internacional

Voluntários percorrem a Ucrânia para resgatar vulneráveis

Trabalhadores humanitários lutam para retirar idosos, enfermos e deficientes das zonas de guerra.

Os sons da guerra ecoam em Bakhmut, cidade praticamente deserta no leste da Ucrânia, a 16 quilômetros do front. O terror é ainda pior para os vulneráveis e incapazes de cuidar de si mesmos, como Zinaida Riabtseva, de 77 anos, que é cega e não pode sair sozinha de seu apartamento.

Enquanto as forças russas atacam com ferocidade cada vez maior, trabalhadores humanitários lutam para retirar idosos, enfermos e deficientes. Aqueles que saem de casa não sabem se poderão voltar, juntando-se aos mais de 12 milhões de ucranianos que foram deslocados pela invasão.


Na semana passada, voluntários britânicos e ucranianos do grupo de ajuda Vostok-SOS foram chamados para remover Zinaida, juntamente com seu marido, Iuri. Depois de colocá-la em uma maca improvisada, eles a carregaram por cinco lances de escada, enquanto Iuri a seguia com pouca bagagem.

Desde que a invasão começou, em fevereiro, a Vostok-SOS retirou 15 mil pessoas do leste da Ucrânia. Em uma das recentes missões, a equipe da Vostok dirigiu por estradas secundárias para chegar à casa de seu último resgatado, Mikhailo Silichkin. Lá, ele pulou pelo portão da frente de muletas, com um cigarro na boca. Um voluntário pegou sua perna mecânica. Outros carregaram sua bagagem. Silichkin trancou o portão ao sair, sem saber se algum dia voltará.

O conflito virou de cabeça para baixo a vida de muitos jovens. Maria Alefirenko, de 31 anos, ficou paralisada há oito anos, após um ataque de morteiro durante a luta contra separatistas apoiados pela Rússia no leste da Ucrânia. Em Mikolaivka, na região de Donetsk que é parcialmente governada pelos russos, um trabalhador humanitário a colocou no carro. Seu pai ficou para trás, chorando quando ela se foi.

Autoridades ucranianas dizem que 80% da população civil de Donetsk, uma das duas províncias que compõem a região de Donbas, já fugiu. Lugares como Bakhmut tornaram-se cidades fantasmas. As lojas foram fechadas com tábuas e as ruas ficaram desertas, exceto por veículos militares e ambulâncias. Os que ficaram para trás cozinham em fogueiras em seus quintais porque não há gás. Mas os vulneráveis permaneceram, e as retiradas continuam diariamente, mesmo na linha de frente.

Os voluntários circulam em minivans, trabalhando em listas de endereços de pessoas idosas ou deficientes que ficaram para trás. Em Sloviansk, os moradores que não partiram agora correm o risco de ataques diários de artilharia e mísseis de cruzeiro, que explodem janelas em prédios de apartamentos.

Maksim Sutkovi, vice-prefeito de Bakhmut, disse que as forças russas estão avançando em um arco para sul e leste. Cerca de 65 mil pessoas já fugiram, disse ele, de uma população de cerca de 100 mil pessoas. “Não podemos entrar na cabeça das pessoas”, disse Sutkovi, acrescentando que alguns moradores ficaram para trás porque eram pobres demais para se mudar ou insensíveis ao perigo. “As pessoas se acostumam a viver com explosões. O que em tempos de paz é inaceitável vira comum.”

Assim, o esforço para retirar os vulneráveis continua, mesmo em meio às explosões. As partidas provocam fortes emoções. “Agora, vou para um lugar seguro”, disse Anatolii Shevchenko, de 73 anos, que ficou ferido no início de maio.

Vladislav Arseni, um ex-trabalhador da construção civil que se ofereceu para remover os moradores das cidades, disse que está dirigindo em missões diárias e já ajudou cerca de 700 pessoas. Ele conheceu muitos que se recusaram a sair. Todas as noites, seu grupo estuda uma lista de candidatos e vão de casa em casa pegando as pessoas e levando-as para as estações de trem, de onde seguem para o oeste.

Em Bakhmut, trabalhar rapidamente é primordial. A área está sob ataque e os trens de retirada não saem todos os dias. Quando o serviço não está disponível, os voluntários transportam as pessoas para um hospital em Sloviansk e as transferem no dia seguinte.

Enquanto ajudava sua mãe acamada em uma minivan, Oksana Zakharenko parecia angustiada. Acostumada às explosões, ela não queria ir embora. Mas os voluntários da equipe de Arseni a convenceram de que era hora de partir. “Por que tivemos de nos acostumar com isso?”, questiona Oksana.

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