Diego Costa é jovem, tem 22 anos e ainda pouca experiência no futebol profissional. Já pode dizer, contudo, que viveu os dois lados do esporte. O zagueiro protagonizou ascensão meteórica em 2020 depois de ter sido alçado ao profissional, mas sofreu com as frustrações ao ser preterido em 2021. Neste ano, pode comemorar seu renascimento sob o comando de Rogério Ceni, que lhe deu a faixa de capitão em alguns dos principais jogos do São Paulo nesta temporada.
Diego amargou o banco com Hernán Crespo e ouviu críticas da torcida no ano passado, quando fez apenas 20 jogos e após algumas falhas. Neste ano, porém, começou a temporada entre os titulares, espantou a desconfiança do torcedor, colocou no banco o veterano Miranda, zagueiro de Copa do Mundo, e passou a ser um dos líderes do elenco do Morumbi, algo que já estava em seus planos. Recentemente, teve seu contrato renovado até o fim de 2024, com os valores não divulgados.
"Usei as críticas para trabalhar mais, para aprender e saber o tamanho do clube cuja camisa eu visto. Treinei mais, me cobrei mais. Hoje me sinto um jogador muito mais maduro e mais preparado", detalha o jogador em entrevista ao Estadão.
Mas o que o zagueiro fez para reconquistar seu espaço depois de um ano no ostracismo? Paciência, dedicação em campo e atenção ao aspecto mental estão entre as respostas do atleta, que afirma ser exigente consigo mesmo. "Tive de trabalhar bastante e esperar minha oportunidade para voltar a atuar. Não estava tendo muita sequência, mas sabia que era questão de tempo. Eu estava treinando muito mais. Não tinha como não voltar a jogar pelo que vinha mostrando para os treinadores", conta. "Foi algo construído com o tempo. Ele (Rogério Ceni) não olhou para mim e me escolheu. Foi eu mostrando para ele no treino que queria e merecia a posição", ressalta, esbanjando confiança.
O jovem sério e com cara de mau em campo diz se inspirar em líderes de suas equipes em outros esportes. Ele foi capitão da equipe em cinco partidas, três delas clássicos. A primeira vez com a braçadeira de capitão foi diante do Corinthians. Depois, repetiu a dose contra Ceará, Avaí e nos dois últimos duelos com o Palmeiras. Ele tem revezado a faixa com Miranda, Calleri e Rafinha. Ceni enxerga no defensor capacidade para ser um líder natural, como ele foi na base são-paulina, e potencial para se transformar em referência.
"Por mais que eu tenha sido capitão na base, ser capitão no profissional é uma grande responsabilidade. Se falar que estava esperando, vou estar mentindo, mas era o que eu almejava", admite. A braçadeira, ele entende, é resultado de seu empenho e postura em campo. "A faixa veio naturalmente. Fico muito feliz de usá-la. O mais importante é meu desempenho, mostrar para os meus companheiros que estou bem fisicamente, tecnicamente e mentalmente".
Dá para dizer que a carreira de Diego mudou com Ceni. Foi o treinador que apostou no ressurgimento do atleta e o fez amadurecer. É um desejo do jogador, agora, repetir o ex-goleiro e também se tornar ídolo do São Paulo. "É um cara em quem me inspiro bastante pelo profissional e pessoa que é e pelo que construiu no São Paulo. É um exemplo. Ganhou muito pelo clube. Espero me aproximar da carreira que ele teve no São Paulo", diz.
De acordo com o Footstats, plataforma que compila estatísticas dos atletas, o camisa 4 é o zagueiro com mais desarmes no Brasileirão e o segundo com mais roubadas de bola na Copa do Brasil. São 28 partidas e um gol marcado. Está a dois jogos de igualar o mesmo número de duelos de 2020, ano em que mais vezes atuou.
Para além do comportamento de líder, um dos recursos que chamou a atenção de Ceni foi a qualidade na saída de bola. O treinador queria um zagueiro que ajudasse na construção do jogo e entende que Diego é essa figura, até por ter sido volante na base. "Mas acho que foi um conjunto de fatores e o quanto eu estar inspirando confiança nas partidas que me levou à titularidade", pondera o jogador, elencando a velocidade e a força na bola aérea como seus principais atributos.
Ele esteve em todos os principais jogos do São Paulo na temporada. Quando não joga, é porque está sendo preservado para estar descansado para ocasiões mais importantes. A fase, portanto, é boa, mas o zagueiro é ambicioso e cobra de si uma evolução. "O meu melhor momento é sempre o que está por vir. Tenho muito a melhorar ainda".
Sério e reservado
O defensor destoa de outros garotos em relação à sua personalidade. Ele atua com uma seriedade pouco vista em atletas de sua idade. Prefere não rir à toa e está, geralmente, com o semblante sisudo. Essa postura é reflexo de como se comporta fora de campo. O sul-mato-grossense natural de Campo Grande é um "cara família" e reservado, ele define.
A excentricidade está na quantidade de tatuagens, espalhadas em boa parte do corpo. "Devo ter mais de 20 tatuagens", conta, sem saber precisar quantas são. Todas, desde datas, números até imagens têm um significado especial e fazem parte de sua história. Estão tatuados em seu corpo o minuto em que marcou seu primeiro gol pelo São Paulo, o dia em que assinou o primeiro contrato profissional com o clube e o primeiro jogo como capitão, por exemplo. "Tenho também imagens que são importantes para mim, como da minha mãe. É uma forma de estar vivo na minha memória".
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