No mês de junho, quem passasse pela Consolação, em São Paulo, era surpreendido com projeções da comediante Bruna Louise na laterais de grandes prédios com a frase #FogoNoPatriarcado. A reivindicação da humorista fez parte de uma ação para divulgar uma “demolição de tabus e crenças e inseguranças”.
Arrebatando a crença machista de que mulher não é engraçada, Bruna se tornou a primeira comediante mulher a lançar um solo de stand-up comedy na Netflix. Demolição foi lançado no dia 22 de junho na plataforma de streaming.
Em entrevista ao Estadão, a artista explica que o nome de seu show foi idealizado a partir de duas perspectivas: social e individual. “Trata-se de uma demolição dos tabus de ser uma mulher em cima de um palco, de ter uma mulher fazendo um stand-up, ir contra o mito de que não somos engraçadas e do sabor que é ser uma mulher no maior streaming do mundo”, inicia.
“O segundo ponto é justamente a demolição das minhas crenças, inseguranças, é a quebra dessas verdades que me fez continuar e ir tão longe. Porque, infelizmente, a gente é muito criada para não acreditar em si”, completa.
No show, Bruna passa todo o tempo sozinha, sob o tablado gigante, onde no som, alternam-se a voz dela e as risadas, vindas de todas as mesas. São muitas. O cenário é bem ocupado por ela.
Ela fala sobre a vida, ao mesmo passo em que destrói tudo com muita ousadia e inteligência. Em um stand-up de rir até “doer a barriga”, a humorista conta sobre suas relações, divide traumas do abandono paterno e o desenrolar dessa etapa que viveu.
Ao comentar sobre a ação nos prédios de São Paulo, a humorista alega que seu stand-up é, sim, feminista, porém, justamente por ser baseado em vivências pessoas, ela não o enxerga como um manifesto. “Não estou falando das dores e lugares que não pertenço, mas o fogo no patriarcado é sobre não aguentar mais, né? Não aguentar ser submissa dos machos”, reflete.
Mesmo partindo de uma perspectiva individual, Bruna reconhece a grandiosidade de ser a primeira mulher a ter um solo de stand-up na Netflix: “Espero que meu trabalho abra mais portas para humoristas mulheres. O fato de ter alguém lotando teatros, talvez incentive outras mulheres. Além disso, espero que incentive quem gosta de mim a consumir outras mulheres”.
Por fim, ela avalia os impactos de sua representatividade também para alguns humoristas homens que se valem de piadas para perpetuar o machismo. “Na verdade, acho que essas piadinhas estão diminuindo cada vez mais, porque estamos rindo cada vez menos”, inicia.
“Quando a gente ridiculariza o cara que faz essas piadas, talvez faça com que ele repense. Para as mulheres que estão na plateia, é justamente essa coisa de: chega de ridicularizar a gente, nós vamos ridicularizar eles. Quero que as mulheres se sintam representadas mesmo”, conclui.
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