Os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiram, por unanimidade, manter a Selic (os juros básicos da economia) em 6,50% ao ano. Com isso, a taxa permaneceu no nível mais baixo da série histórica do Copom, iniciada em junho de 1996. Foi a sétima manutenção consecutiva da taxa neste patamar.
A decisão desta quarta-feira, 06 – a primeira após Jair Bolsonaro (PSL) ter assumido a Presidência da República – era largamente esperada pelos economistas do mercado financeiro. De um total de 51 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast, todas esperavam pela manutenção da Selic em 6,50% ao ano.
A reunião de hoje também deve ter sido a última de Ilan Goldfajn no comando do BC. Para o próximo encontro, marcado para 19 e 20 de março, a tendência é de que o economista Roberto Campos Neto, indicado por Bolsonaro para a presidência da autarquia, já tenha passado pela aprovação do Senado.
Ao justificar a decisão de hoje, o BC afirmou por meio de comunicado que a manutenção da Selic reflete seu cenário básico e balanço de riscos para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui o ano-calendário de 2019 e, com peso menor e gradualmente crescente, de 2020.
No documento, o BC também atualizou suas projeções para a inflação. No cenário de mercado – que utiliza expectativas para câmbio e juros do mercado financeiro, compiladas no relatório Focus –, o BC manteve projeção para o IPCA de 2019 em 3,9%. No caso de 2020, a expectativa foi de 3,6% para 3,8%.
No cenário de referência, em que o BC utilizou uma Selic fixa a 6,50% e um dólar a R$ 3,70 nos cálculos, a projeção para o IPCA em 2019 passou de 4,0% para 3,9%. No caso de 2020, o índice projetado continuou em 4,0%. As projeções anteriores constaram no Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado em dezembro.
O centro da meta de inflação perseguida pelo BC este ano é de 4,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual (índice de 2,75% a 5,75%). Para 2020, a meta é de 4,00%, com margem de 1,5 ponto (de 2,5% a 5,5%). No caso de 2021, a meta é de 3,75%, com margem de 1,5 ponto (2,25% a 5,25%).
Expectativas
A última vez que houve declínio foi em março de 2018, quando caiu para 6,50%. Já as projeções para a Selic no término de 2020 estão entre 6% e 9%, diante das perspectiva de melhora economia e de um pouco mais de inflação por parte dos analistas.
Apesar de esperar Selic estável até o fim deste ano, o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Camargo Rosa, pondera que o debate sobre queda de juro pode ganhar força. Para ele, se a atividade continuar enfraquecida, com o hiato do produto "extremamente" aberto, e a inflação permanecer controlada, assim como as expectativas, podem abrir espaço para redução do juro.
A LCA Consultores cita que o balanço de riscos parece ter, em alguma medida, se alterado desde o último Copom de 2018. Em nota, a equipe econômica da consultoria admite que o ambiente externo continua desafiador e que as reformas domésticas ainda precisam andar. Contudo, reconhece que os riscos inflacionários parecem ter sofrido relevante diluição e a atividade econômica tem decepcionado.
A economista-chefe da Canvas Capital, Camila de Faria Lima, explica que a projeção de Selic menor no fim deste ano, em 5,75%, também considera a aprovação da reforma da Previdência e o encaminhamento de uma parte relevante da agenda econômica do atual governo. "Avaliamos que isso possibilitaria o BC a diminuir o juro", cita, acrescentando ainda que essa hipótese também leva em conta um quadro de inflação sob controle e uma retomada gradual da atividade.
Como o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) deu a entender que pode não subir o juro em 2019, isso também é considerado por Camargo Rosa como um sinal positivo para emergentes e inclusive o Brasil.
Para Agostini, da Austin, o processo de aperto monetário poderá ter início em outubro. "Devemos ter uma consolidação do crescimento econômico neste ano e, por isso, a inflação pode ganhar um pouco mais de ritmo com a melhora do emprego e dos salários", contextualiza.
Ver todos os comentários | 0 |