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Economia e Negócios

Telemarketing é setor que mais destrói empregos

Desde 2015, com o início da recessão, empresas de call center fecham mais postos que abrem; tecnologia substitui atendentes.

Porta de entrada de muitos brasileiros com qualificação mais baixa no mercado de trabalho, a profissão de operador de telemarketing dá sinais de esgotamento. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a atividade foi a que mais destruiu postos de trabalho em 12 meses até setembro e não parou de perder vagas nos últimos quatro anos.

Este ano, a categoria dos atendentes tem tido o pior resultado no saldo de vagas (a diferença entre vagas abertas e fechadas no período), com 21.115 postos de trabalho a menos.


Fora do gancho

Os números de trabalhadores nessa função ajudam a contar a história recente e vertiginosa da economia brasileira. Quando o País cresceu 7,5%, em 2010, a função de auxiliar de teleatendimento teve saldo recorde. Foram quase 40 mil postos de emprego a mais em 12 meses, até setembro. Em 2016, já em plena recessão, foram cortados 31,6 mil empregos, apontam os dados compilados para o Estado pela consultoria LCA.

Do lado da economia, a piora no varejo e nos serviços nos últimos anos também ajuda a explicar a queda de oportunidades para atendentes. Somente na empresa Atento, a maior empregadora privada do País, o número de funcionários recuou 11%, quando comparados os anos de 2014, antes da recessão, e 2019. Hoje, são 80 mil empregados.

“É um tipo de vaga que acaba absorvendo trabalhadores sem tanta qualificação ou que estão procurando se recolocar em momentos de crise”, lembra o economista Cosmo Donato, da LCA. Ele completa que, apesar de mudanças recentes nas regras de terceirização, que poderiam fortalecer centrais já consolidadas de call center, o trabalho de atendente tornou-se mais vulnerável ao esbarrar em mudanças na legislação.

No ano passado, o Senado aprovou uma restrição nos horários e dias permitidos para o cliente receber ligações, além da possibilidade de cadastrar números de telefones de consumidores que não querem receber ligações das empresas.

Ramal ocupado

O setor de teleatendimento tem sofrido com um processo massivo de automação, diz João de Moura, presidente da Federação Interestadual dos Trabalhadores e Pesquisadores em Serviços de Telecomunicação (Fitratelp). “As empresas sofreram muito durante a recessão e se empenharam em cortar custos. Ficou mais barato deixar uma gravação no lugar do atendente ou criar aplicativos para que o próprio consumidor solicite um serviço ou faça reclamações.”

Luana Almeida, diretora da Vikstar, empresa do setor com 8 mil empregados, reconhece as mudanças provocadas pela tecnologia. “Há um enxugamento do setor, motivado pela introdução de novas ferramentas.”

Ela lembra que, há alguns anos, os erros de cobrança eram muito mais comuns do que hoje. “O consumidor tinha até como rotina ligar no fim do mês para a central de relacionamento para checar as ligações da conta telefônica ou as compras da fatura de cartão de crédito.”

O setor também destaca que a migração da publicidade para as redes sociais e WhatsApp tem provocado um novo ciclo de investimentos nas empresas, que passaram a contar com equipes crescentes de profissionais de tecnologia responsáveis pelo desenvolvimento e manutenção dos aplicativos e assistentes virtuais de atendimento.

“A mudança é inevitável, mas esse é um dos setores que mais empregam. Nada substitui a necessidade de o País qualificar essa mão de obra para exercer outras funções”, diz Moura.

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