Facções criminosas com atuação violenta e estrutura organizada seguem se expandindo pelo Brasil, com maior presença na região Nordeste, segundo levantamento do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP). O estudo realizado pela Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen) aponta que, dos 88 grupos identificados no país nos últimos três anos, 46 operam nos nove estados nordestinos. Essas organizações são responsáveis por crimes como tráfico de drogas, homicídios, tortura e disputas por territórios, com o objetivo de acumular poder e lucro.
O Mapa das Organizações Criminosas 2024 indica que a atuação das facções não se limita ao Nordeste. Há registros de 14 grupos operando na região Norte, 10 no Centro-Oeste, 18 no Sudeste e 24 no Sul do país. Em comum, essas organizações apresentam estruturas hierárquicas e, em muitos casos, viés ideológico. De acordo com o relatório, quanto mais organizada e ideológica for a facção, maior tende a ser seu impacto na segurança pública, refletido no aumento da violência e no domínio de áreas urbanas e rurais.

No estado da Bahia, há uma concentração significativa de grupos, como o Comando da Paz, criado em 2007; a Katiara, de 2013; e o Bonde do Maluco, considerado um dos mais violentos da região. Além deles, também atuam a Caveira, que embora tida como extinta desde 2017 ainda é citada em investigações, e outros grupos menores como a Mercado do Povo Atitude, a Ordem e Progresso e o Bonde do Ajeita, este último aliado ao Comando Vermelho desde 2021.
O Maranhão é outro estado com forte presença de facções, como o PCC e o Bonde dos 40, ambos com origem em presídios e inspirados nas estratégias do crime organizado nacional. O Bonde dos 40 surgiu em 2007 e mantém relação amistosa com o PCM, fundado no mesmo ano, ambos com histórico de atuação conjunta em facções de outros estados. O modelo de organização dessas facções segue o padrão do Primeiro Comando da Capital.
Na Paraíba, as principais organizações criminosas são o PCC e a Okaida. Esta última, criada nos anos 2000, é considerada a maior do estado e surgiu como oposição ao grupo Estados Unidos, mais antigo e ainda em atividade. A rivalidade entre as facções provoca uma sequência de confrontos e assassinatos, especialmente nas áreas periféricas das cidades. Pernambuco também registra a presença da Okaida e do PCC, ampliando o alcance dessas organizações na região.
No estado do Piauí, há registros oficiais da atuação apenas do Primeiro Comando da Capital (PCC), com forte influência no sistema prisional. No entanto, a presença da facção se estende para fora das prisões, com indícios de envolvimento em tráfico de drogas e crimes violentos em áreas urbanas e na divisa com outros estados nordestinos. A atuação silenciosa e articulada permite ao grupo se manter ativo sem chamar tanta atenção das autoridades locais.
O Rio Grande do Norte registra forte atuação do PCC, do Comando Vermelho e do Sindicato do Crime, fundado em 2010. Este último é apontado como o maior grupo criminoso do estado e mantém confrontos frequentes com o PCC, em uma disputa intensa por domínio do tráfico de drogas e do sistema penitenciário. A guerra entre facções tem resultado em massacres dentro de presídios e ataques em áreas urbanas.
Em Sergipe, a situação é semelhante, com presença confirmada do PCC, do Comando Vermelho e do Bonde do Maluco. Esses grupos têm influência crescente e se articulam com redes criminosas de estados vizinhos, utilizando rotas estratégicas para o tráfico de entorpecentes. O enfrentamento entre facções rivais também se manifesta por meio de execuções e ameaças, inclusive dentro das unidades prisionais.
No Distrito Federal, a facção Comboio do Cão (CDC) se destaca como o principal grupo criminoso da capital do país. Segundo a Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco), o CDC é envolvido com execuções, tráfico e roubos, mas se diferencia por não possuir estrutura organizacional formal. De acordo com o delegado-chefe Paulo Pereira, o grupo funciona por laços de lealdade entre membros e mantém um poder econômico significativo, apesar de não contar com estatuto ou divisão clara de tarefas.
Por fim, algumas facções brasileiras já ultrapassaram as fronteiras nacionais e atuam em outros países. É o caso do Primeiro Comando da Capital (PCC) e do Comando Vermelho (CV), considerados grupos transnacionais. Essas organizações têm conexões com redes internacionais de tráfico de drogas e expandiram sua presença para países da América do Sul, utilizando fronteiras terrestres como pontos estratégicos para o escoamento de entorpecentes.
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