A relação entre os Poderes no Brasil atravessa um momento de tensão crescente. Enquanto a oposição defende o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), parlamentares do Centrão preferem uma abordagem mais conciliadora, buscando negociar com os magistrados para conter o ativismo judicial e evitar conflitos que possam se intensificar até as eleições de 2026.
Recentes ações do STF e da Polícia Federal (PF) aumentaram a tensão no Congresso. Deputados como Marcel Van Hatten (Novo-RS) e Cabo Gilberto Silva (PL-PB) foram indiciados por declarações feitas no plenário contra o delegado Fábio Alvarez Shor, que lidera investigações conduzidas pelo ministro Alexandre de Moraes. Além disso, assessores de Carlos Jordy (PL-RJ) e Sóstenes Cavalcanti (PL-RJ) também foram alvos de investigações por suposto desvio de recursos da cota parlamentar.
As ações do Judiciário contra parlamentares, especialmente aqueles de direita, são vistas como parte de um avanço sobre o Legislativo. Desde 2021, diversas decisões judiciais, incluindo prisões preventivas e investigações, têm como foco deputados e senadores conservadores.
O bloqueio de emendas parlamentares
Outro ponto de conflito é o bloqueio de emendas parlamentares. Em agosto, o ministro Flávio Dino suspendeu os pagamentos, medida que só foi revertida em dezembro após a aprovação da reforma tributária e do pacote de contenção de gastos do governo. Contudo, nesta semana, Dino bloqueou novamente as emendas de comissão, orçadas em R$ 4,2 bilhões, e ordenou investigações sobre o uso dos recursos.
As emendas orçamentárias são a principal ferramenta de poder dos parlamentares, permitindo o envio de recursos às bases eleitorais. Em 2024, o governo Lula planeja pagar R$ 8,27 bilhões em emendas de comissão, em comparação aos R$ 285 milhões de 2023. Críticos assemelham essas emendas ao "orçamento secreto", pois não identificam o autor do pedido.
Estratégias divergentes entre oposição e Centrão
Enquanto o Partido Liberal (PL) de Jair Bolsonaro aposta em um confronto direto com o STF, mirando uma possível maioria no Senado em 2026, o Centrão prefere negociações discretas. Parlamentares desse bloco buscam acordos individuais com ministros do STF para evitar novos embates e garantir a manutenção de seus interesses, como a proteção de mandatos e o desbloqueio de emendas.
Propostas legislativas também compõem a estratégia de contenção. A PEC 8/2021, que limita decisões monocráticas no STF, é um exemplo disso. Embora tenha sido aprovada no Senado em 2023, o texto aguarda análise da Câmara dos Deputados. Outra proposta, a PEC 28/2024, permitiria ao Congresso suspender decisões da Corte.
Cálculo político e pragmatismo do Centrão
Para o Centrão, o embate entre direita e STF representa uma oportunidade de barganha. Ao apoiar pautas antiativismo judicial, o bloco pode obter concessões tanto do governo quanto da oposição. Um exemplo é a articulação em torno da candidatura de Hugo Motta (Republicanos-PB) à presidência da Câmara em 2025. Parlamentares do PL tentaram condicionar o apoio à tramitação de um projeto de anistia aos presos do 8 de janeiro, mas o presidente Arthur Lira (PP-AL) adiou a votação, mantendo a esperança de avanço no próximo ano.
Análise política
Especialistas apontam que o ativismo judicial do STF gera um desgaste entre os Poderes. Para o cientista político Elton Gomes, da Universidade Federal do Piauí, o uso do Judiciário como ferramenta para contornar o Legislativo cria uma "dinâmica arriscada", que fragiliza o equilíbrio institucional e intensifica a judicialização da política.
O Cenário para 2025 inclui a provável eleição de Davi Alcolumbre (União-AP) à presidência do Senado. Reconhecido por sua habilidade em negociar com o STF nos bastidores, Alcolumbre pode adotar uma postura pragmática, priorizando trocas de poder para proteger interesses corporativistas no Congresso.
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