Líder do governo na Câmara, o deputado Ricardo Barros (Progressistas-PR), ex-ministro da Saúde, afirmou ao Estadão que vai pressionar politicamente e ameaça "enquadrar" a diretoria da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) a eliminar exigências e agilizar a aprovação de vacinas contra a covid-19. O líder de Bolsonaro afirma que os diretores da Anvisa estão "fora da casinha" e "nem aí" para a pandemia.
Até agora, a agência deu aval emergencial a duas vacinas para aplicação no Brasil, a Coronavac e a AstraZeneca/Oxford. “Estou trabalhando. Eu opero com formação de maioria. O que eu apresentar para enquadrar a Anvisa passa aqui (na Câmara) feito um rojão”, avisou Barros. “Eu vou tomar providências, vou agir contra a falta de percepção da Anvisa sobre o momento de emergência que nós vivemos. O problema não está na Saúde, está na Anvisa. Nós vamos enquadrar.”
O líder do governo disse que a agência só derrubou a exigência de ensaios clínicos de terceira fase para aprovação de vacinas, anunciado ontem, depois que ele protocolou um projeto para eliminar a etapa de testes. A agência agiu antes da votação. Mas Barros considera a decisão da agência "enganação". Antes a fase 3 era obrigatória e agora passou a ser "preferencial".
“Eles tiraram a fase 3 e colocaram um monte de exigências. Eles não entenderam ainda. Estão fora da casinha, não sabem que estamos numa pandemia, que precisamos de coisas urgentes, que precisamos facilitar a vida das pessoas. É só exigência. Não é possível que tenha 11 vacinas aprovadas em agências no mundo inteiro e nós só temos duas, e eles não estão nem aí com o problema”, afirmou Barros. "A Anvisa precisa estabelecer normas compatíveis com a emergência. Normas de segurança, eficácia e agilidade. Ela está só na segurança e na eficácia e agilidade nenhuma, zero. Nem aí com o problema. Cada dia inventam mais exigência. Hoje mesmo tiraram a fase três e colocaram mais dez gravetos no lugar. Querem enganar quem? Estão achando que sou trouxa?”
O aval da Anvisa poderia acelerar a importação da vacina de origem russa Sputnik V, na qual o governo aposta para turbinar o programa nacional de imunizações. A vacina será produzida no Brasil pela União Química. O laboratório pertence ao empresário Fernando de Castro Marques, que concorreu a senador no Distrito Federal pelo Solidariedade. Um dos diretores da empresa é o ex-deputado pelo PSD e ex-governador do Distrito Federal Rogério Rosso.
A União Química quer importar 10 milhões de doses prontas da vacina até março. Em 2021, promete entregar 150 milhões de doses, incluindo a produção no País, que ainda não começou e exige também certificações da Anvisa.
Procurada, a Anvisa não se manifestou sobre as declarações de Barros.
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