A média diária de casos de covid-19 no Amazonas triplicou na primeira semana de dezembro em relação a outubro, passando de 42 para 120 por dia, segundo dados oficiais do Estado. A situação mais crítica está em cidades do interior, onde a campanha de vacinação esbarra em comunidades resistentes ao imunizante e de difícil acesso nas zonas rurais. Diante desse cenário e do risco da variante Ômicron, o Amazonas decidiu restringir eventos. Especialistas dizem que é importante observar o comportamento da doença no local para entender riscos para o restante do País, uma vez que o Estado se vacinou antes no começo do ano.
A capital tem melhor cobertura vacinal (76% do público-alvo com as duas doses) na comparação com o resto do Estado (66%). Com 13.462 habitantes, Jutaí, a 751 quilômetros a oeste de Manaus, é a cidade com a maior a incidência recente de casos e a principal responsável por elevar os números da covid no interior. Foram 375 notificações em novembro, frente a 166 em outubro. Neste mês, mais 122 casos em apenas sete dias, elevando a média mensal de 12 para 17.
Até o fim de novembro, o município tinha só 47% da população com o esquema vacina, segundo o secretário municipal de saúde, Oquimar Ramos. Ele atribui a dificuldade no avanço da vacinação a um negacionismo de cunho religioso em algumas comunidades. “A gente tem seguidores de uma religião com essa dificuldade, porque eles entendem que não devem se vacinar. Acham que a vacina é da besta, que vai matar”, disse.
Ramos conta que já fez mais de dez visitas às áreas onde há maior resistência à imunização, sem sucesso. O secretário também aponta que 38% dos casos da doença registrados recentemente ocorreram em área indígena. A cidade com a situação epidemiológica mais crítica do Estado não registra óbitos pela doença desde 16 de julho, mas a demanda por internações, segundo Oquimar, já é realidade. “Temos três pessoas em Manaus, que foram de UTI aérea. Inclusive meu pai, que tomou a segunda dose. Ele está entubado. Com o aumento de casos e internações, vai começar a vir os óbitos”, alertou.
Cidade alvo de garimpo vê infecções subirem
O município de Autazes, a 113 quilômetros a sudeste de Manaus, praticamente não apresentava casos de covid desde setembro, até somar 92 só na 2ª quinzena de novembro. O período coincide com a chegada de balsas de garimpo nas proximidades da cidade, no Rio Madeira, em movimentação que chamou a atenção do Brasil e do mundo.
Só em dezembro, foram mais 77 casos na cidade, mas a secretária de saúde do município, Raquel Lourenço, descarta correlação de eventos. “Tivemos aumento devido ao inverno amazônico. As pessoas procuraram fazer o teste mais vezes e, com isso, a gente tá fazendo a testagem em massa”, disse.
Além dos registros concentrados em Jutaí e em Autazes, a lista de municípios com notificações diárias ampliou nos últimos dois meses. Mas o evidente aumento de casos não se reflete em hospitalizações - que se mantem abaixo de dez por dia no estado desde setembro -, e no de óbitos, com média diária inferior a três.
Manaus cancelou réveillon
O aumento de casos e a ameaça da variante Ômicron, ainda não identificada no Estado, levaram o governador Wilson Lima (PSC) a suspender a realização de eventos com mais de 3 mil pessoas entre 15 de dezembro e 15 de janeiro. No último sábado, 4, o prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), anunciou o cancelamento da festa de réveillon na cidade, que receberia o cantor Luan Santana.
No interior, o governo iniciou uma busca ativa nas regiões do Estado com menores percentuais de população imunizada. A campanha, denominada Megavacinação, começou nesta quarta-feira, 8. O foco estará em 21 municípios onde há baixos índices de vacinação.
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