Poucas saídas na história do Estadão são tão marcantes quanto a do repórter Mauro Mug, em 2006. Ao encerrar o último expediente na redação, depois de 40 anos no jornal, ele foi aplaudido por centenas de colegas jornalistas e funcionários de outros setores. Foi o reconhecimento de uma trajetória marcada pela generosidade, determinação e amizade que cultivou durante as quatro décadas no jornal.
O mesmo reconhecimento se repetiu no último domingo, 14, data em que Mauro faleceu, aos 77 anos, por complicações de uma cirurgia feita em agosto para tratar uma úlcera. Em depoimentos nas redes sociais, a lembrança de Mug - como se tornou conhecido por causa da semelhança com o boneco de pano do mesmo nome, na década de 60 - foi de um repórter apaixonado pela profissão, pelos colegas e pela família.
Mauro Carvalho da Silva começou a carreira na função de rádio escuta, na década de 1960, no Estadão. Na década seguinte, se tornou repórter e se destacou pela agilidade que tinha em apurar e na determinação de entregar o que pediam. "O Mauro era pau para toda obra. Em qualquer situação, ele entregava o que era pedido. Não voltava da rua sem matéria", lembra a jornalista Marcia Glogowski, que trabalhou com ele cerca de 30 anos.
Em uma era pré-internet, a habilidade de apuração dele era um trunfo para o jornal. Mauro conseguia apurar histórias mesmo que fossem à distância ou em lugares remotos, como o caso da queda do avião da Varig, em 1989, numa região da Amazônia. "Ele ligava para as estações de táxi das cidades próximas para saber informações. Nenhuma autoridade sabia de nada ainda, nem onde o avião havia caído, mas ele já tinha uma ideia", continuou Marcia.
Na redação, ele se destacava pela generosidade. Mauro costumava ajudar os repórteres mais novos e relembrava histórias que havia vivido em apurações e construía amizades que levou até o fim da vida.
Mug também era um apaixonado pela família. No Estadão, todos sabiam a história de como ele conheceu Amélia, esposa que esteve ao seu lado durante cinco décadas. Juntos, eles tiveram três filhos e três netos. A mais velha, Andreia Carvalho, se tornou jornalista por influência do pai. "Ele era como um herói para mim e isso fez com que eu seguisse os passos dele", contou.
Após se aposentar, o jornalista ainda chegou a trabalhar como assessor de imprensa na Câmara Municipal de São Paulo durante alguns anos. Entretanto, decidiu parar e se dedicar à família. Apaixonado por futebol, passou a acompanhar o neto mais novo, Bernardo, nos campos. "Meu pai era um apaixonado pela profissão, uma hora cansou e passou a se dedicar aos netos. No futebol, todos do clube do Bernardo sentiram muito o falecimento dele", disse Andreia.
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