As nuvens de poeira registradas nos últimos dias em São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Maranhão podem ser especialmente prejudicial para crianças, idosos e quem já sofre com problemas respiratórios, como doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC, conhecida popularmente como enfisema), asma e rinite ou sinusite.
“Ela afeta muito a parte respiratória, não só durante a tempestade, mas também pelas partículas que ficam na atmosfera por alguns dias”, explica Rafael Futoshi Mizutani, pneumologista do Instituto do Coração (InCor), do grupo de doenças respiratórias ocupacionais e ambientais.
Segundo Mizutani, essas partículas menores que continuam pairando no ar após a tempestade só se diluem quando chove ou são arrastadas por ventos fortes. Elas conseguem inclusive atravessar a camada de proteção da maior parte das máscaras faciais, com exceção da N95/PFF2. Quando absorvidas em excesso, elas podem gerar crises de asma, insuficiência respiratória (falta de ar), tosse e chiado no peito.
“As partículas mais grossas são retidas pelas máscaras comuns, mas aquelas muito finas são as que causam mais problemas ao pulmão e ficam mais tempo na atmosfera”, aponta. Ele recomenda também a quem tem mais suscetibilidade para problemas respiratórios que evite sair de casa nos dias após a tempestade de poeira e mantenha as janelas fechadas.
Áreas atingidas tinham baixa cobertura vegetal nativa
O Mapeamento Temática da Cobertura Vegetal Nativa do Estado de São Paulo de 2020 aponta que a região atingida é a de pior cobertura vegetal nativa. Em Ribeirão Preto, por exemplo, há apenas 9,2% da original, colocando o município na classe vermelha (a pior de cinco). Presidente Prudente, que também enfrentou a nuvem de poeira no fim da semana passada, está em situação semelhante, com 13,3%.
No município de Tupã, onde um homem morreu após ser atingido por um muro derrubado pelo vento durante uma tempestade de terra, tem 9,9% de cobertura vegetal nativa. Situação similar é vista em Santo Antônio de Aracanguá, no qual três pessoas morreram após o vendaval atingir um pasto em chamas, no qual a cobertura vegetal nativa é de 11,3%.
Para comparação, até a urbanizada capital do Estado tem um índice maior, de 27,4%. Mas é abaixo do visto em municípios que detêm áreas de proteção, como Bertioga (84,2%), Caraguatatuba (77,1%) e Ilhabela (94,1%). Como o Estadão mostrou na semana passada, a região afetada também enfrenta seca extrema.
Sobre a tempestade que atingiu municípios paulistas no dia 26, como Franca, o Inmet chegou a emitir nota destacando que foi resultado de fatores como seca, temperatura elevada e estiagem prolongada. “A frente de rajadas de vento teve extensão de pelo menos 200 km, atingindo cidades do norte paulista como Olímpia, Guaíra e Franca.”
Por e-mail ao Estadão, Gerd Sparovek, professor do Departamento de Ciência do Solo da USP e presidente da Fundação Florestal, considera que o fenômeno ainda é uma exceção no cenário nacional. "Provavelmente a erosão eólica continue sendo um fenômeno raro no Brasil", destacou. "O assunto ganhou exposição pública, o que faz parecer que é mais relevante do que realmente é", disse.
"A erosão mais frequente no Brasil é a erosão causada pela chuva (erosão hídrica) que representa quase todas as perdas de terra por erosão no Brasil. As condições de pouca cobertura vegetal (devido às secas e geada) também aumenta a susceptibilidade à erosão hídrica. Se vai ou não haver muita erosão hídrica neste verão, ainda não é possível saber, vai depender do regime de chuvas com a chegada do verão e da rapidez com que os cultivos agrícolas irão proteger o solo pela sua cobertura", completou.
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