Nos últimos anos, a escassez de ambientes universitários no Brasil em que se valorize a liberdade acadêmica, especialmente nas áreas de humanidades, tem sido uma preocupação constante entre estudantes e professores contrários à militância woke . Contudo, esse cenário começa a mostrar sinais de mudança. As informações são da Gazeta do Povo .

Instituições de ensino superior têm sido fundadas com o propósito de resgatar o conceito clássico de universidade, alicerçado no pluralismo intelectual, na liberdade acadêmica, na busca objetiva pela verdade e na valorização do mérito e da excelência. Além disso, algumas universidades já tradicionais estão adotando uma abordagem mais renovada, à medida que reitores e coordenadores abrem espaço para novas práticas.

De acordo com gestores acadêmicos ouvidos pela Gazeta do Povo , observa-se um início de desgaste do radicalismo identitário que ainda predomina no ensino superior, mas que começa a ser desafiado. O excesso de dogmatismo, a falta de fundamentação intelectual sólida e a crescente influência da internet, que propaga novas perspectivas, têm levado estudantes e professores a encarar com ceticismo a militância woke.

“Chegou a um ponto em que as pessoas estão se cansando. A razão está voltando ao espaço. O wokeísmo está em declínio”, afirma um dos gestores, que opta por manter o anonimato.

Recuperando o ensino universitário clássico

Em grandes centros urbanos como São Paulo e Rio de Janeiro, várias instituições de ensino superior têm resgatado a essência do ensino universitário clássico, implementando iniciativas que priorizam essa abordagem, seja em cursos específicos ou em sua missão acadêmica geral. Em São Paulo, exemplos disso são a Faculdade Belavista e a UniÍtalo. Já no Rio de Janeiro, a Faculdade Mar Atlântico segue a mesma tendência.

Na UniÍtalo, por exemplo, o historiador Rafael Nogueira, ex-presidente da Biblioteca Nacional, foi convidado para coordenar a licenciatura em História. Em suas palavras, o objetivo é priorizar o estudo da história sem as influências da politização. "O que muita gente quer é um ensino acadêmico de verdade, onde o aluno pode acessar diferentes visões sem ser obrigado a seguir uma cartilha ideológica", declara.

O retorno ao ensino de excelência

A Belavista e a Mar Atlântico adotam um modelo de core curriculum, ou seja, um conjunto de disciplinas obrigatórias para todos os alunos, independentemente da área de especialização. Esse modelo foi a base para a construção de universidades renomadas como Harvard e Columbia e busca garantir uma formação sólida em áreas essenciais como filosofia, história, ciências e artes. O objetivo é criar um ambiente acadêmico que valorize o pensamento crítico e a tradição intelectual ocidental, incluindo a leitura dos grandes clássicos literários.

Gestores dessas instituições relatam um crescimento na demanda por esse tipo de formação, mesmo diante das campanhas contrárias, tanto na mídia quanto dentro da academia, que associam esse movimento à volta de propostas educacionais tradicionais. "O pensamento clássico é muito rico e empolgante. Se mais pessoas soubessem o que ele representa, teriam mais interesse", comenta um dos entrevistados.

Liberdade acadêmica e conexão com o mercado

Algumas instituições, embora não tragam explicitamente o conceito de resgatar o ensino universitário clássico em seus projetos pedagógicos, são reconhecidas por proporcionar ampla liberdade acadêmica a professores e estudantes. Esse ambiente, de acordo com especialistas, favorece uma conexão mais forte com o mercado de trabalho, pois o tempo que seria gasto com militâncias ideológicas é direcionado para questões práticas e profissionais.

Exemplo disso é o Ibmec, com unidades em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília. A instituição, com 14 cursos de graduação, incluindo Comunicação Social, Direito e Relações Internacionais, oferece um ambiente mais plural. Um professor do Ibmec destaca a diferença entre sua instituição e uma universidade pública, onde a cultura woke é predominante. "No Ibmec, o ambiente é muito mais plural. Não existe um ambiente de inibição", observa.

No Centro Universitário Barão de Mauá, em Ribeirão Preto (SP), a liberdade acadêmica também é um diferencial. "A coordenação estimula o pensamento crítico e a autonomia para lecionar. Isso é fundamental, especialmente nas humanidades", comenta um dos professores da instituição.

Desafios do MEC e as alternativas ao discurso woke

As novas iniciativas enfrentam desafios, principalmente em relação às exigências pedagógicas impostas pelo Ministério da Educação (MEC). A presença da ideologia woke no sistema educacional brasileiro se reflete em temas como meio ambiente e direitos humanos, que foram apropriados pela cultura woke. Porém, gestores e docentes acreditam que é possível atender a essas exigências sem ceder à ideologia.

"O MEC exige que certas disciplinas abordem questões como história afro, direitos humanos e meio ambiente. Embora reconheçamos a importância desses temas, podemos abordá-los de maneira que não envolva doutrinação ideológica", explica um professor, que preferiu não ser identificado.

Rafael Nogueira, da UniÍtalo, concorda: "Nos adaptamos bem às normas do MEC. Algumas exigências poderiam ser mais flexibilizadas, mas conseguimos criar um curso que reflete nossa visão, enquanto atendemos às exigências governamentais."

Universidades públicas ainda sob influência woke

As universidades públicas ainda apresentam uma predominância da ideologia woke, especialmente nos cursos de humanidades. O professor Carlos Ferraz, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), relata que as pautas ideológicas começaram a se expandir e se tornar hegemônicas nas universidades. "Hoje, para ser bem-sucedido acadêmica e profissionalmente em uma universidade pública, é necessário aderir a essas pautas", afirma.

No entanto, sinais de mudança começam a surgir. O cientista político Luiz Ramiro aponta que, embora a influência das ideias woke tenha crescido nos últimos 15 a 20 anos, já há indícios de exaustão desse modelo. "O sistema se retroalimenta e isso empobrece a produção científica. O mercado e os próprios alunos começam a perceber a falta de substância intelectual", observa Ramiro.

A esperança para as universidades públicas

Rafael Nogueira acredita que a solução não é abandonar as universidades públicas, mas sim enfrentar a ideologia woke com uma visão mais aberta e plural. "As universidades brasileiras não são de esquerda. São de todos nós. Todos nós pagamos impostos", afirma Nogueira, destacando a importância de lutar pela preservação da liberdade acadêmica, dentro e fora das universidades.

Conheça algumas faculdades com baixa influência de ideologias woke no Brasil

Centro Universitário Barão de Mauá

Rua Ramos de Azevedo, 423, Jardim Paulista, Ribeirão Preto (SP).
Cursos de graduação: Administração, Arquitetura e Urbanismo, Biomedicina, Ciência da Computação, Ciências Biológicas, Ciências Biológicas - Licenciatura, Design Gráfico, Direito, Enfermagem, Estética e Cosmética, Farmácia, Fisioterapia, Gestão de Recursos Humanos, Gestão Financeira, História, Jornalismo, Letras, Marketing, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição, Pedagogia, Produção Audiovisual, Psicologia e Publicidade e Propaganda.
Site: baraodemaua.br

Centro Universitário Ítalo Brasileiro (UniÍtalo)

Onde: A UniÍtalo está localizada na Avenida João Dias, 2046, Santo Amaro, São Paulo (SP).
Cursos de graduação: 48 cursos de graduação, entre os quais Administração, Arquitetura e Urbanismo, Biomedicina, Ciência da Computação, Ciências Contábeis, Ciências Econômicas, Direito, Educação Física, Enfermagem, Engenharia Agronômica, Farmácia, Fisioterapia, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Pedagogia, Psicologia, Publicidade e Propaganda, História, Letras, Filosofia e Teologia.
Site: italo.com.br

ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing)

São Paulo (SP): Rua Doutor Álvaro Alvim, 123, Vila Mariana; Rio de Janeiro (RJ): Rua do Rosário, 90, Centro. Porto Alegre (RS): Rua Guilherme Schell, nº 350, Santo Antônio.
Cursos: Administração, Ciência de Dados e Negócios, Ciências do Consumo, Cinema e Audiovisual, Comunicação e Publicidade, Design, Design de Animação, Direito, Jornalismo, Relações Internacionais e Sistemas de Informação.
Site: espm.br

Faculdade Belavista

Unidade I: Rua Martiniano de Carvalho, 573, Bela Vista, São Paulo (SP); Unidade II: Rua Cardeal Arcoverde, 563, Pinheiros, São Paulo (SP).
Cursos: Direito e Economia.
Site: faculdadebelavista.edu.br

Faculdade Mar Atlântico

Rio de Janeiro: Avenida das Américas, 3434 - Barra da Tijuca; Fortaleza: Rua Monsenhor Bruno, 1153 – 50º andar – Aldeota.
Cursos: Filosofia e Gestão Pública.
Site: faculdademaratlantico.com.br

Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais)

Cursos oferecidos: Administração, Arquitetura e Urbanismo, Ciência de Dados e Inteligência Artificial, Ciências Contábeis, Ciências Econômicas, Comunicação Social - Publicidade e Propaganda, Direito, Engenharia Civil, Engenharia da Computação, Engenharia da Produção, Engenharia de Software, Engenharia Mecânica, Full Stack Development, Relações Internacionais.
Endereços:
Ibmec RJ Centro - Avenida Presidente Wilson, 118
Ibmec RJ Barra - Avenida Armando Lombardi, 940
Ibmec Brasília - SIG - Quadra 4 - Edifício Capital Financial Center, St. Sudoeste Bl. A
Ibmec Paulista - Alameda Santos, 2356 - Cerqueira César
Ibmec Faria Lima - R. Sumidouro, 89 - Pinheiros
Ibmec Belo Horizonte - R. Rio Grande do Norte, 300 - Funcionários
Site: ibmec.br