- Foto: Divulgação/AscomEdvaldo Pereira de Moura
“Falamos tanto da necessidade de deixar um planeta melhor para os nossos filhos e esquecemos da urgência de os deixarmos melhores para o nosso planeta”.
Um pai anônimo
“Sei que não é fácil ser pai. Posso ter dado trabalhos, preocupações e alguns contragostos mas, nos tombos que tomei, sempre encontrei suas mãos vigorosas e cheias de perdão para me levantar”.
Um filho anônimo
Desembargador Edvaldo Pereira de Moura,
Diretor da Escola Superior da Magistratura do Estado do Piauí e Professor da UESPI
O título acima não tem nada ou nenhum sentido em relação à genial obra proustiana. O tempo perdido a que nos referimos é aquele que deixamos passar, envolvidos com coisas sérias, no rumo abnegado e aguerrido às conquistas pessoais por uma vida melhor.
Dizem os sábios, na idade avançada, com as cãs resvalando seus fios de prata da cabeça ao rosto, prêmio das aventuras de uma vida feliz e honrada, não mais influenciados pelos impulsos das lutas concorrentes, por um melhor lugar entre os seus iguais que, às vezes, chegamos ao pico da montanha do sucesso, da fama e do prestígio e a nossa alma enche-se de uma crise íntima de consciência pelo egoísmo, pelo desprezo dados às simples, pequenas e belas coisas, que deixamos passar por nós, sem que as tenhamos apreciado, com a inocência dos humildes e puros de coração, como tanto pregou, às multidões, o inolvidável Mestre da Galileia.
Pois é, sem esquecermos a obrigação de falarmos dos outros quatro filhos, o mesmo que iremos externar sobre a nossa caçula, pedimos a compreensão de todos eles para mencionarmos, aqui, apenas a Victória, de modo particular.
Do alto dos nossos sofridos, agitados e aguerridos setenta e dois anos de idade, em que estão somados os momentos de uma infância pobre, sofrida, mas corajosa, trabalhadora e premido por enfermidades, cirurgias dolorosas, decepções pelo rosário de angústias trazidas pelo desencanto de, como no apólogo do Mestre Machado de Assis, termos servido de agulha para tanta linha ordinária, já nos encontramos com a decepção íntima de termos passado por momentos afáveis, cariciosos e abençoados, sem lhes dar o devido valor.
O melhor dos exemplos, diz respeito à caçula Victória. Uma criatura linda, generosa, inteligentíssima, esforçada, com um extraordinário senso de responsabilidade e liderança nos estudos e na afetividade familiar. Hoje, acadêmica de Medicina, em Teresina e apesar de ainda está no 6o período, coordenou a criação e hoje preside à Liga Acadêmica de Técnica Cirúrgica da Facid e é vice-presidente de importante liga nacional.
Victória é um dos mais preciosos tesouros que temos em nossa vida. Seus cuidados, sua ternura, sua admiração filial, têm nos despertado para a grande dívida que contraímos com ela, por não tê-la sempre feito alvo do nosso carinho e da nossa afetividade, na corrida louca e desesperada, voltada às nossas responsabilidades profissionais de magistrado abnegado e intransigente.
Em um dos nossos aniversários, a Victória nos presenteou com algumas observações tecidas a nosso respeito. Vejam o que ela disse:
“Hoje escrevo, porque é a data natalícia do maior presente que pude receber na vida. Escrevo, porque as pessoas devem ser reconhecidas pelo seu valor moral, pessoal e profissional. Escrevo, porque o orgulho transborda e engrandece o amor que sinto por essa figura excepcional de homem e de juiz. Escrevo, porque ele é importante pelo que faz, pelo que é e pelo exemplo de verticalidade que sempre me deu. E, por fim, escrevo, porque sinto a necessidade de fazê-lo”.
“Antes de começar, esclareço que o homem que aqui descrevo nesse pequeno parêntese virtual, é uma síntese de pequenas observações sobre a vida, o trabalho, a amizade, a lealdade e a gratidão. Dele herdei a altivez, o gosto pela leitura, muitas vezes induzida por presentes inesperados, em forma de livros e o senso de justiça. Sua honradez e boa vontade para servir, induziram o destino de me dedicar ao próximo, reafirmando o orgulho que sinto ao citá-lo como pai. Esse homem, dedicou grande parte de sua extenuante jornada, ao Estado, aperfeiçoando a justiça e propagando o dever profissional e a ética cidadã”.
“Apesar do rosto tracejado pelas marcas da idade, mostra-se atualizado, refrescando-se com doses e mais doses de conhecimento adquirido, aliando o saber jurídico à humanidade profissional. Todos conhecem a sua sabedoria, brindada por discursos e falatórios ricos e prolongados. Por trás desse homem virtuoso, ainda existe a humildade, reflexo de anos calejados, batalhando para conseguir seu lugar ao sol. Seu bom humor constante, regado por brincadeiras e apelidos cômicos, marcam a sua personalidade e aliviam as tensões em qualquer ocasião. Como guardião do lar, apresenta-se como protetor, confrontando os dilemas familiares com o seu pulso firme. No entanto, em relação aos direitos que a vida adulta proporciona, segue um caminho de ciúme e de cautela, justificado pela fusão dos anos de vivência, amor paternal e pela necessidade de proteção aos que lhe são caros”.
Brindado com essa mensagem, valioso presente, que tanto nos honrou e nos encheu de alegria, recebido por ocasião do nosso aniversário, resolvemos retribuí-lo.
Já cansado e combalido pelas lutas e pelo trabalho, que nos fizeram escravo do dever, temos encontrado um bálsamo milagroso e um alívio no coração paterno e sentimos a certeza e a alegria de que nossa adorada filha Victória, a exemplo de seu pai, de seus irmãos e de sua mãe, galgará todos os caminhos áridos, pedregosos e íngremes, tendo no ânimo a ambição benéfica, gentil, generosa e humanitária de contribuir com os sofredores e menos favorecidos, nesta sociedade injusta e desigual.
Não podemos deixar de agradecer, como pai orgulhoso, pela linda mensagem com que fomos homenageados e pela maravilhosa filha que temos.
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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