- Foto: Alef Leão/GP1Washington Bonfim
O ano de 2020 encerra a segunda década do século XXI e aprofunda a percepção das inúmeras e extraordinárias mudanças que vive o nosso tempo.
O desafio ambiental, a sempre presente ameaça de conflito nuclear e, mais recentemente, a revolução tecnológica, que traz profundas mudanças econômicas e no cotidiano das pessoas, surgem como desafios para todos.
Sobre tecnologia, em lugares tão distintos quanto o México e Dubai, experiências na construção civil utilizando impressoras 3D são realizadas para construir casas populares e prédios públicos. No Brasil, em grandes redes de alimentação e supermercados começam a surgir terminais eletrônicos de pagamento, que, em breve, estarão substituindo maciçamente os caixas dessas lojas.
Na educação, uma nova pedagogia se estrutura, baseada nos conceitos de “sala de aula invertida”, metodologias “maker”, autonomia do estudante e cooperação para resolução de problemas.
Na saúde, o uso de bigdata e a criação de aplicativos já barateiam e democratizam o acesso a exames cardíacos, por exemplo, em prefeituras do interior do Piauí.
Nenhum setor da vida humana deixará de ser transformado na próxima década. Inclusive o mercado de trabalho, que já se encontra em profunda reestruturação.
Sílvio Meira, pernambucano, fundador e presidente do Conselho do Porto Digital do Recife, em artigo publicado no Estadão, em 18/12/2019, faz um alerta contundente: “estudo recente mostra que 60% do trabalho feito no Brasil tem probabilidade de até 70% de ser computadorizado nas próximas décadas. Das 10 ocupações com mais empregos formais, cinco têm probabilidade de automação maior que 90%, e respondem por 7,8 milhões de vagas.”
Operadores de caixa e telemarketing estão entre essas ocupações ameaçadas. Em breve, vendedores de lojas, atendentes de clínicas e até mesmo operários da construção civil terão menos vagas de trabalho disponíveis. As ocupações que sobreviverem terão remuneração mais baixa e exigências de escolaridade cada vez mais altas.
No mesmo artigo, Meira questiona: “como está o Brasil? Cuidando da agenda do passado, que deveria ter sido resolvida há décadas. É um esforço essencial, mas deveríamos estar cuidando do futuro.”
No Piauí e em Teresina, como estamos?
Arrisco responder que tais questões ainda não parecem habitar mentes e espíritos dos gestores públicos, com honrosas exceções. Estamos no início de um ano eleitoral e não há, até agora, nenhuma palavra sobre essas transformações, que irão afetar os destinos e o bem estar de nossa população. Nada além da recorrente e enfadonha discussão de pré-candidaturas e dos posicionamentos de aliados e oposição.
Não é necessário grande esforço de reflexão para percebermos os perigos que esta nova realidade econômica e do mercado de trabalho impõe, em especial em regiões como o Nordeste brasileiro e o nosso estado.
Mais desigualdade, pobreza, desemprego, informalidade e subemprego se avizinham, podendo trazer suas consequências negativas e afetar a segurança e a vida das pessoas.
As administrações de Teresina sempre estiveram comprometidas com o cuidado de nossa gente, pensando no futuro da cidade e de suas novas gerações. Educação, saúde, assistência e cuidado com as pessoas têm sido marcas reconhecidas da capital piauiense e, muito especialmente, do pensamento e do trabalho do prefeito Firmino Filho. Como Firmino, pouquíssimos outros gestores no país têm olhar tão aguçado e alerta para o futuro.
Mas, em regimes democráticos, mandatos têm prazo e é preciso renovar as gestões. Neste momento devemos compreender que o futuro - que já vivemos – pode colocar as cidades às portas da irrelevância e trazer muitas dificuldades para gestores e populações. E renovar significa que é preciso aproveitar o muito que foi feito e avançar. Ter os pés firmes no chão e olhar para a frente.
A agenda política como existe e é debatida hoje, sem o aprofundamento crítico sobre as necessidades que o futuro – que, reafirmo, já chegou -, colabora no desgaste e na percepção de grande parte da população de que democracia e governo não funcionam como deveriam.
Isso contribui para bloquear a segurança quanto ao futuro, e traz a perspectiva de retrocessos nas conquistas que já foram obtidas à custa de tanto trabalho e sacrifício, e que são a base para o que ainda precisa ser realizado. Não podemos retroceder e, sim, mais do que nunca, avançar.
E cuidar desse futuro, já tão presente.
Washington Bonfim
Professor e cientista político
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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